15:11HORÓSCOPO

por Osman Gadoso

Libra

Era um amor silencioso porque ele, com a alma trancada, falavo pouco. Ela gostava de conversar, mas deixava-o ruminar as dores do peito para não atrapalhar mais. Fazia tudo por ele, operário que levava marmita com a comidinha feita como ele queria. No final da tarde, quando voltava, a água quente para o escalda-pé estava na bacia de alumínio. Ela se abaixava e lavava-os. Nunca trocaram um carinho na frente dos filhos. O mais velho um dia ouviu alguns gemidos atravessando a porta de um quarto. Ele voltou a beber depois de décadas. Ela segurou o tranco e o acompanhou na volta à terra onde nasceram. Ele ficou doente. Ela ficou triste. Ela foi embora antes, porque um câncer atravessou sua vida. Ele, ao lado do caixão, chorou feito menino, sentado na cadeira de rodas que o aprisionou durante anos. Ele partiu alguns anos depois. Estão juntos no mesmo jazigo. Nas lápides, as fotos dos dois ainda jovens, do começo do namoro. Bonitos. Muito bonitos. Ele não falava, mas sabia que o comando era dela, porque mais inteligente, humorada e distribuía amor. Depois, sem isso, não haveria aquilo que chamavam lar. Ela sabia, mas não falava, para não desagradar e fazer sofrer mais seu único e grande amor. Os dois filhos ficaram por aí. Com ela e com ele na alma. Se entortaram, se quebraram, sofreram, mas estão a depurar tudo a fim de passar para filhos e netos o que há de bom, sempre com a certeza de que a força que gera e leva é a da mulher.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.