16:39Nua e chapada

Cena curitibana enviada por um colaborador do blog:

Segunda-feira de Carnaval, 19h, marido abre o hermético portão da casa em aço escovado para a esposa sair para o trabalho. Jornalista a moça. No lusco-fusco do fim de tarde, uma figura feminina salta por detrás de um arbusto na calçada. Cabelos cacheados na altura do ombro, gordinha. Completamente nua e trôpega de tão chapada. Perguntou pela dona da casa, pelo nome. Errado, por sinal. A alma piedosa desceu do carro e foi reconhecer a figura que, naquele estado, mal lembrava a menina que muitas vezes outrora apertava a campainha para pedir comida, roupas ou um bolo, no aniversário. Moradora antiga de um braço de ocupação às margens do rio Barigui, caiu na vida. Judiada, hoje mora de favor, perdeu os filhos e, naquela hora, pouco de dignidade lhe estava. Em meio à chapação restou lucidez para lembrar do nome, ainda que errado, da antiga benfeitora. “Roubaram minha roupa”, justificou antes de agradecer e sumir na esquina adiante. Trajava agora um velho jeans e uma camiseta que esperavam por um novo dono no varal da garagem.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.