por Osman Gadoso

Sagitário

Carnaval, para ele, foi só uma vez na vida. Pegou o ônibus em São Paulo e dois dias depois estava no Recife. Moído, mas feliz. Na manhã seguinte, partiu de um bar, ponto de encontro do bloco “Nóis Sofre mas Nóis Goza”. Ao ouvir o som dos metais da banda, foi atrás, desvairado, pelas ruas, pelas casas, pela Ilha de Itamaracá, por Caruaru, pelas garrafas de Pitu, pelos litros de bate-bate. Se viu então chegando em Olinda, quero cantar, e se perdeu como se estivesse voando no banco de trás daqueles Galaxies serrados, sem as portas e a parte de cima; como se seguisse o zumbido do lança-perfume aspirado em lenço de seda ou em na dança de cores de uma daquelas sombrinhas cortando o ar. Milhares de corpos e almas pulando sob a proteção de santos abrigados nas igrejas centenárias. O mar verde entrando de vez em quando na retina para dizer que tudo estava sob controle. Nove meses depois ela nasceu. Negra com cabelo de índia. Forte e doce. Simples e complexa. Seca e carinhosa. E toda vez que ele a olha, seu coração é um frevo só. Descompassado de amor. Porque é sempre carnaval.