10:26Sobre jornalismo e jornalistas

Mensagem enviada em forma de comentário pela jornalista Vania Mara Welte sobre o texto de Marcio Varella, publicado aqui e no Observatório de Imprensa, a respeito da demissão de Gladimir Nascimento da rádio Bandnews:

Ao ler o texto/desabafo de Márcio Varella me veio à memória um outro. Foi escrito há décadas por Fernando Pessoa, não o grande poeta português, mas um jornalista que passou por aqui, foi acolhido por colegas, ocupou espaços no mercado de trabalho e, depois, se foi. E lá, de longe, também escreveu sobre os ex-amigos e sobre a cidade. O título era “Curitiba, a fria”. Já, no início do texto, ele explicava o nome Curitiba. Esclarecia que “ritiba quer dizer: do mundo”. Tenho absoluta certeza de que o grande profissional e ser humano Mazza e muitos outros jornalistas se lembram desse outro episódio que entristeceu a todos nós. Sim, tudo isso é muito triste. Muito, mesmo. As demissões, as ofensas, as agressões… Será que você, Márcio, conhece mesmo todos os jornalistas do Paraná, de Curitiba, para fazer tais afirmações?!

Eu lamento o sofrimento de qualquer ser humano e de toda a natureza. Lamento, sobretudo, a dor e as injustiças sofridas por colegas.

Infelizmente, Gladimir não foi o primeiro e nem será o último jornalista injustiçado. Mas ele teve a defesa de toda a categoria, inclusive do Sindicato dos Jornalistas. Mesmo porque esta é uma luta sem trégua. Basta conhecer melhor a trajetória de muitos jornalistas daqui, do país e do mundo. Há milhares de profissionais exemplares. Muitos até morrem no cumprimento de seu ofício. Basta ver as estatísticas, no país e no resto do mundo.

Em 2008, a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) registrou o assassinato de 85 jornalistas, de 32 países – inclusive do Brasil. Um número um pouco menor do que o de 2007, quando foram mortos 115 profissionais.

Nos últimos cinco anos, o número de assassinatos aumentou em 244% em todo o mundo.

E de 1996 até 2006, o Brasil entrou para o ranking dos países com o maior número de jornalistas assassinados. Pelos dados do Instituto Internacional News Safety, nesse período, foram assassinados 27 jornalistas no nosso país. Alguns, com enorme sofrimento, como no assassinato de Tim Lopes. E ele não foi o único.

Ainda, nesse mesmo tempo, de acordo com o levantamento realizado em todos os países, o número de mortes é alarmante: 456 morreram baleados, 101 vítimas de explosões, 681 trabalhando no campo e 117 nos arredores do local de trabalho.

E dos 731 jornalistas que morreram em “tempos de paz”, 97 apuravam casos de corrupção e 46 preparavam matérias relacionadas à politíca. O relatório ainda mostra que nove profissionais, de cada dez, foram mortos no mesmo país onde trabalhavam.

O texto acrescenta que, em todos esses lugares, coexistem a corrupção, a ausência da lei e uma cultura de impunidade para aqueles que cometem atos de violências contra jornalistas. E as violências são diversas.

Será que, com todos esses dados, não está na hora de sermos mais unidos, solidários e responsáveis com nossos atos e palavras?!

Márcio, eu lamento a sua dor, a de sua mulher Celina, a de Gladimir e de tantos outros colegas, muitos anônimos e indefesos. Sou solidária. Mas discordo de sua agressão verbal a todos nós. Mesmo porque, você não conhece todos os seus colegas de profissão.

Abraços fraternos, com esperança de dias melhores para todos nós;

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10 ideias sobre “Sobre jornalismo e jornalistas

  1. divo juruna

    Que a primeira sílaba de Curitiba diz tudo a respeito da cidade, não resta dúvidas. Só nos resta virar discípulos do Marcio Tagarella, o jornalista que não li – e que, pelo jeito, não lerei. Precisamos nos prostrar diante de tal cabeça privilegiada, que tudo domina, menos a humildade. Tagarella é o jornalita iluminado, o único que pode derrubar o Richard Nixon que insiste em viver dentro de nós, reles mortais.

  2. John

    Entendo todas as manifestações de apoio, em todos os sentidos. Mas a verdade é que a maioria paga pelos erros da minoria. A classe jornalística não é tão unida quanto prega o artigo acima. Assim como a classe dos administradores, dos lixeiros, dos cobradores, dos médicos, e assim por diante. Porque o ser humano se acostumou a ser egoista. E com dinheiro e interesses envolvidos então, nem se fala. Louvável a Vania vir em defesa da classe, mas convenhamos: tem jornalista SIM que leva dinheiro para falar de A ou B. De cabeça poderia citar uns 10. Veículos de comunicação que descem o sarrafo em administrações públicas porque não recebem cotas de publicidade. Isso sim é o que a jornalista deveria combater. O fato de Marcio desabafar contra essa gente (me perdoem se soei pejorativo) machuca e afeta alguns, talvez aqueles que são inocentes e acham que, como eu, isso tudo é um absurdo. Não se pode criticar a postura do Marcio porque paciência realmente tem limite. É o relato de uma pessoa que está realmente de saco cheio com tudo o que vem acontecendo. E o foco está sendo desviado, porque quem tinha que ser atacado, isto é, o sujeito que cedeu às pressões e demitiu o Gladimir, não é lembrado em nenhum momento. Acho que está mais do que na hora de pararmos com esse autofagismo tolo de se ofender cada vez que alguém reclama do provincianismo de Curitiba. Porque é assim que as coisas são, e nada vai mudar…

  3. Roberto Alvarenga

    Divo,
    Se vc acha isso mesmo da nossa cidade, porque não se muda ou não faz algo mais produtivo para mudar o que acha que está errado?

  4. ruth bolognese

    Demissão do Gladimir Nascimento
    Está na hora desta gente bem informada amadurecer e aceitar que um jornalista não é diferente de qualquer outro torneiro-mecânico da vida: tem que trabalhar muuuuito, seguir a linha do veículo que o patrão determinar e quando quiser ter opinião própria que vá abrir seu próprio jornal. O resto é bobagem de quem acredita que uma reportagem pode mudar o mundo. Necas de Pitibiriba. E se muda é porque faz o jogo de alguém, ou de alguns. O jornalista é um empregado, ô meu!Ou o coleguinha aí, qualquer um, ainda imagina que os grandes nomes da imprensa nacional dizem o que querem e quando querem? Dançam conforme a música, e quando saem do ritmo, dançam de fato.
    O Gladimir é competente, vai arrumar serviço logo e a vida continua.
    Sem ilusões, Companheiros!
    Ruth Bolognese

  5. duda

    Engraçado que muitos proprietários de pequenos veículos ou sócios de outros nem tão pequenos assim começaram como jornalista e terminaram como patrões que devem aos empregados. No entanto, o lobby ao longo da carreira faz com que muita coisa seja esquecida. Sobreviver com salário de jornalista é um milagre, milagre mensal. Poucos profissionais têm condições de dizer não para um “jabá” ou outro. E os que se “rebelam” são ignorados por outros veículos, que não têm o menor interessse em empregar quem tem “bronca” trabalhista.
    Condordo com a jornalista Ruth quando ela diz que jornalista é como qualquer outra profissão, sem glamour e, em muitos casos, sem dinheiro algum. Falta aos profissinais humildade para receber ordens do patrão e manter a autonomia “psiquica” ao chegar em casa. Jesus, nos dê força!

  6. Vanessa

    A verdade é que mesmo os jornais pequenos estão loucos por mamar nas tetas do governo. Ou de algum outro poderoso que pague uma boa grana.Não porque simpatizam com este ou aquele político,porque defendem este ou aquele ideal, mas simplesmente porque sem verba pública não dá para sobreviver financeiramente.Afinal, os jornais, como qualquer outra empresa, têm como finalidade primordial obter lucratividade. Infelizmente, essa é a realidade.

  7. zebeto

    galheta, vou responder pela enésima vez: não censuro, deleto direto, principalmente aquilo que pode me render um baita processo enquanto o comentarista anônimo fica rindo em casa e tomando tererê. obrigado pela compreensão. abraço. saúde.

  8. jose

    ZB, vc sabe nos dizer como anda a audiência da BandNews depois da saída do Gladimir? Caiu, subiu, ficou na mesma?

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