6:20O vazio que assanha

Só há uma explicação para o assanhamento e açodamento dos pré-candidatos ao governo do Estado a quase dois anos antes das eleições: a inexistência do atual. Até os mais ferrenhos adversários de Roberto Requião acham triste o fim do terceiro mandato de um político que poderia fazer história, mas que acabou cometendo só uma enorme lambança, com marca registrada e estampada no peito, que ele bate com a palma da mão orgulhosa e esquizofrenicamente: “É minha!”. Requião não fez um governo de esquerda, como leu em discurso. Fez e faz uma adminsitração errante, que se movimenta conforme o humor do comandante, onde assessores capacitados não são uma equipe, mas jogadores que, com frequência, são obrigados a chutar contra o próprio gol, porque o dono da bola acha que isso é o correto. A opção preferencial pelos pobres, infelizmente, ficou no discurso, junto com a Carta de Puebla, guardada na gaveta e retirada apenas para ser citada nos palanques. Nepotista esclarecido, o governador acertou apenas onde menos se esperava – na indicação de sua mulher, Maristela Requião, que faz um brilhante trabalho na direção do Museu Oscar Niemeyer. Os irmãos Mauricio e Eduardo, melhor secretário de Educação e melhor administrador de portos do Brasil, respectivamente, saíram do governo bem antes de ele terminar. Um, empurrado goela abaixo da subserviente Assembléia Legislativa, a Casa do Povo, para assumir o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas e vestir a beca de titânio protetora; o outro, depois de conseguir a façanha de quase inviabilizar o atracamento de navios num dos mais importantes portos do país, por falta da fundamental dragagem, foi enviado a Brasília, para a casa que representa o governo, ou seja, o homem certo no lugar certo. Carismático, inteligente, Roberto Requião tem sua legião de seguidores, como se fosse o bispo de uma igreja onde ele é o Senhor e o pregador ao mesmo tempo. Os políticos, principalmente os de sua geração, afundarão no abismo aberto pelo governo desastroso. Os mais novos há tempos trocam juras de amor com “o outro lado”, porque querem se salvar e, ao mesmo tempo, não cutucar o governador, que é vingativo e ainda tem um par de dias de poder. Ele, que não terá candidato à sucessão, porque não gosta de sombra e não admite quem empane o que ele acha ser brilho próprio, agora se vê na situação de fazer acordo com recentes inimigos, para tentar voltar ao Senado, ou então, de birra, vai até o final do governo para depois se retirar ao silêncio e ostracismo. Em dias de delírio mais intenso, imagina ser o candidato do PMDB à presidência da República, talvez acreditando que o estoque de loucuras do país seja mesmo inesgotável. A ansiedade dos pré-candidatos tem a ver com tudo isso. Sabem que o mínimo que fizerem no cargo será muito, mas muito melhor do que o atual. Recomenda-se, contudo, que antes de assumir, mandem benzer e fazer um descarrego no gabinete. A doença pega.

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9 ideias sobre “O vazio que assanha

  1. marcio varella

    A DEMISSÃO DE GLADIMIR NASCIMENTO

    O jornalista deve se esmerar para mostrar uma notícia, saber onde está o nó górdio, o âmago da informação, descobrir os meandros do dilema, juntar os cacos, traduzir e didatizar o texto que vai ao ar ou à prensa. Para isso, é preciso experiência, muita experiência, muitas noites mal dormidas e plantões sofridos. É preciso conhecer profundamente um pouco de tudo, saber escolher as palavras, resumir o pensamento, como Rubem Braga fazia, filmar o fato com a mente e mostrá-lo palatável e apetitoso. Quando for preciso, fazer analogias com as coisas do cotidiano para que os leitores, ouvintes e telespectadores tenham a idéia perfeita do acontecido e, aí sim, possam formatar suas opiniões. Este é o trabalho da imprensa: dar os ingredientes certos para que o público faça o seu tempero de acordo com o seu paladar.
    São pouquíssimos os jornalistas que atingiram este patamar, esta capacidade profissional. Mas para conseguir, tem que ter bom caráter, tem que ser do Bem.
    No Paraná, conto nos dedos os jornalistas capazes dessa façanha: Sérgio Brandão, Luiz Geraldo Mazza, Gladimir Nascimento, Leonardo Henrique dos Santos.
    No início deste ano, o Gladimir, diretor e apresentador do jornal matinal da rádio BandNewsFM, foi demitido porque deu o tom certo, fez a analogia certa da notícia que já se tornou lugar comum naquele estado: os deputados estaduais, na calada da noite da última sessão do ano, sem a presença do telão de votações e da imprensa, reajustaram suas aposentadorias além do execrável. Obrigar a população a pagar aposentadoria de deputado que diz que trabalha por apenas quatro anos já é um absurdo. Mas aumentá-la assim é crime.
    No Paraná, não. Lá não existe imprensa e muito menos jornalistas, além dos já citados. Lá eles fazem de conta que a imprensa é livre e tem autonomia, mesmo porque os patrões são completamente dependentes da elite empresarial local e dos políticos locais, estaduais e federais. Todos, sem exceção, uns vendilhões, vermes que comem a carne do querido povo paranaense por dentro, deixando só a pele para manter a aparência.
    Desta porca elite curitibana, da qual faz parte com orgulho e arrogância a classe média alta, podemos esperar de tudo.
    Morei lá por mais de nove anos. Sou dependente de álcool, maconha e cocaína. Estava mal de saúde e minha mulher Celina me levou até o dr. Leocádio José Corrêa, da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), que me convenceu e me iluminou o suficiente para que eu conseguisse fazer um tratamento na Clínica Quinta do Sol. Fiz e, graças ao meu Poder Superior, estou há quase 20 anos em sobriedade. Trabalhei nesta clínica como voluntário e lá aprendi a conhecer melhor o caráter das pessoas. Logo que saí do internamento, depois de 78 dias, fiz um concurso para a Secretaria de Comunicação Social da Prefeitura de Curitiba. A secretária era a Cyla Schulmann, filha do então presidente da Febraban, Maurício Schulmann. Se não fosse filha de quem é, até hoje estaria aprendendo a ler e a escrever, com dificuldade, é claro. Fui aprovado em terceiro lugar. Certamente, fiz uma boa prova, eram mais de dois mil concorrentes a 10 vagas de jornalista. Mas nunca fui chamado. A tal secretária inventou um erro, republicou a lista dos aprovados e me deixou em nono lugar. Chamaram só os oito primeiros colocados. Escarafunchei dentro da prefeitura e descobri que meu passado havia sido responsável por tudo. Dependente de droga e ex-UNE em Brasília, peito aberto no enfrentamento da ditadura, porradas vigorosas no pessoal da TFP, ativista, defensor dos direitos humanos e das liberdades. Essas coisas não caberiam no currículo de um jornalista da gloriosa Prefeitura de Curitiba.
    Se algum dia alguém assistir na tv ou ouvir no rádio ou ler em jornal alguma matéria feita em Curitiba contra os poderes constituídos podem ter a certeza de que esses poderes constituídos estão com o pagamento dos anúncios atrasado.
    A imprensa curitibana é uma verdadeira vergonha. Os jornalistas se vendem por migalhas, se ajoelham por quase nada. O mais preocupa são os recém-formados, pois estão aprendendo a profissão com essa corja, com esses lorpas, neste valhacouto imundo.
    Neste sábado, li a notícia da demissão do Gladimir no Observatório da Imprensa, fiquei abismado, Contei à Celina e minha mulher chorou como criança porque haviam mutilado a consciência crítica de um dos maiores jornalistas paranaenses. Ela ficou com muita raiva e escreveu o artigo abaixo. Ah, antes que me esqueça, deixei Curitiba com minha família, graças a Deus. De novo, lá, nem por escala de avião. Salto fora.

    Marcio Varella, jornalista, São Paulo, SP, 11- 3746-0587.

    O ARTIGO DA CELINA

    “Meu Deus!! Como pode uma cidade que se diz de primeiro mundo deixar fora do Jornalismo profissionais do Bem? Como podem os distintos e respeitáveis cidadãos curitibanos que se norteiam pela ordem e disciplina, pela boa conduta, pela moral cristã, pela paz na família, deixar a oligarquia que lambe o saco dos políticos paranaenses ( essa maioria formada por uma corja de ladrões de galinhas que agem na madrugada) pedir a cabeça do Gladimir Nascimento?
    Gladimir é talvez um dos últimos profissionais do Jornalismo que fazem a nossa profissão valer a pena. Graças a ele um monte de jovens movidos a bateria alcalina estava aprendendo que jornalismo era mais do que segurar microfone para aparecer na telinha. Poucos já estavam descobrindo que o que realmente interessa ao jornalista é a verdade dos fatos, mostrá-la doa a quem doer, acima do bem e do mal, mesmo que ladrões de galinhas ameacem com o desemprego. Esse medo do desemprego, outro grande inimigo da profissão, que faz com que muitos pais de família, jornalistas decentes, acabem se sentindo intimidados por ladrões de galinhas e por empresários lambedores de saco que se vendem por qualquer trocado. Corruptos unidos jamais serão vencidos. Por enquanto.
    Gladimir Nascimento e sua coragem de expor, sem dó nem piedade, as feridas ocultas das castas paranaenses, é mesmo uma grande pedra no sapato curitibano. Não existe ninguém da sua geração que seja tão bem informado, antenado, nem que ame tanto sua comunidade, no caso, a irretocável Curitiba. Não acredito que algum jornalista conheça tanto sua cidade, cada biboca, cada rua, beco, cada problema social, cada ninho de corrupção e todos os meandros do poder infectado pela ganância.
    Ninguém sabe tanto do que a população sofre e necessita. E ninguém mais do que o Glad percebe a fundo quais são os males que ameaçam os curitibanos. Sua ampla visão, sua voz corajosa, seu amor pelo ser humano, seu respeito à natureza, o entusiasmo visceral para minimizar a perpetuação da sacanagem que come a sociedade paranaense, são a marca registrada do ex-diretor da Rádio BandNews FM, demitido porque pediram sua cabeça. Mais um ponto para a nata dos poderosos. Eles pretendem devorar a alma e os valores paranaenses para aumentar seus bens escondidos em paraísos fiscais.
    Mais uma da imprensa (ainda tem imprensa no Paraná? ou só alguns jornalistas que não se vendem nem aceitam fazer parte do imenso balaio de gatos e da panelinha de vendidos e omissos?). Que Deus proteja os poucos profissionais jornalistas que ainda sobrevivem ao desemprego, às ameaças, aos estagiários e paus-mandado dos patrões.
    Que Nossa Senhora da Luz ilumine muuuuuuuuito suas mentes. Que os verdadeiros jornalistas não desistam de informar a verdade. Que não se deixem intimidar, que não tenham que sair da cidade como muitos fizeram ( eu inclusive). Que os vendidos morram com formigas saindo pelo nariz; que os safados e omissos envelheçam, envileçam longe das redações, mancando, cegos, carecas, sem a língua, impotentes e isolados em manicômios por causa do ataque de culpa.
    E que a galera profissional de verdade passarinhe, eternamente. Que nenhum jornalista paranaense precise sair da cidade que ama porque os donos do poder o expulsaram, fato corriqueiro que a imprensa eternamente comprada omite.
    Que os capitães das empresas e os donos da voz da gente sejam apenas comerciantes, nefastos vendedores de anúncios e se afastem do ambiente sagrado das redações.
    E que no final de todo esse massacre aos ideais de bons profissionais pela galera do Mal, sobrem empregos para jovens e talentosos jornalistas e também para nós, jurássicos postos de lado.
    Que vençam a coragem, a informação, a verdade, a luta pelos direitos humanos, pela sociedade mais justa.
    Que o bom humor refinado e indestrutível do Gladimir possa contagiar a maioria que ainda faz jornalismo de verdade para, no final dos tempos de arbitrariedades e de galinhagem noturna, os banidos de hoje possam dar muitas gargalhadas.

    Celina Maryia Alonso, jornalista com 30 anos de profissão, quase 18 vividos em Curitiba, cidade que ama e de onde foi banida por falta de emprego.

  2. Frik

    a Crise é a grande aliada – a grande, a planetária – aquela que que agita cada átomo no eixo Caracas-Teerã … Revolução pela Crise, a esperança dos demagogos

  3. dumbo

    Eu é que não vou relevar meu nominho, mas lá vai: me fodo todo dia, leio todo dia, faço “plantões sofridos”, como escreveu o Marcio Varella, ganho um salário de merda e nunca me vendi, já bati de frente com patrões ridículos, fui despedido, etc., mas, segundo o próprio Marcio Varella, só os jornalistas citados por ele prestam. O resto são todos “vendidos”, vendem-se “por migalhas”. VÁ PLANTAR BATATAS, AMIGÃO!

  4. dumbo

    Se ele, Marcio Varella, estivesse ainda por aqui, certamente incluiria seu nominho lindo na lista dos únicos jornalistas “que prestam”. Já que ele, só ele, tem um “Poder Superior”, como diz, ele fez “uma boa prova”, ele lutou contra a ditadura, deu porradas na TFP, é um ativista na luta pelos direitos humanos, etc. Marcio, não te conheço nem quero, mas faça o seguinte: volte a tomar uns tragos, porque você está virado num VERDADEIRO XAROPE. XAROPAÇO.

  5. dumbo

    E antes de escrever merda, procure se informar sobre jornalistas que fazem TRADUÇÕES e assinam matérias como se fossem suas.

  6. loredan

    Concurso para jornalistas, na PMC, na gestâo Greca?(vide Cila).
    Até onde sei há décadas, se é que um dia houve, nâo há concurso para jornalista na Prefeitura.
    Esclareça, plis, sr Marcio Varela.

  7. jose

    Esta Márcio Varella não é mesmo daquele texto ridículo sobre pobreza da última eleição?

    Se for, Graças a Deus que já foi embora, pois em tudo o que escreve ele expõe seu ódio contra Curitiba e a todos que aqui escolheram para trabalhar e viver…

    E já foi tarde, porque é apenas mais um que “se acha”…

    E se está tão indignado assim, porque não escreve sobre mensalão, dólares na cueca, Francenildo, Leão Leão, Waldomiro Diniz, Celso daniel, Toninho do PT e tantos outros escândalos que estão por aí?

  8. marcio varella

    em primeiro lugar, dumbinho, eu sei seu nome. sei quem vc é e sei que vc é um bundão e covarde. se assim não o fosse, assinaria seu nome como eu assino o meu.
    em segundo lugar, citei o nome de jornalistas que considero competentes de maneira genérica, e entre eles incluiria o do Zé Beto, o do Elísio, o do Giovanonni. Mas principalmente, como disse a Celina, incluo o dos recém-formados e aqueles que são focas ainda e renovo-lhes o conselho: querem aprender a fazer jornalismo? Pois saiam de Curitiba.
    E respondendo ao Ioredan, a tua memória é muito ruim, amigão. Seria o álcool? Houve concurso, sim, para a Secretaria de Comunicação nos anos 90. Em segundo lugar ficou o David Campos, hoje chefe de comunicação do galinheiro, ou melhor, da Assembléia Legislativa. Pergunta pra ele. Ou pergunta para a Cyla.

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