11:17O tsunami chegou

Artigo publicado por Rodrigo da Rocha Loures* no jornal Gazeta Mercantil:

A onda chegou forte. A queda da produção industrial em dezembro, somada à retração de outubro e novembro, é a pior da série histórica da pesquisa do IBGE. A freada equivale ao efeito de um tsunami sobre a nossa economia.

Estávamos crescendo a taxas altas. A produção industrial dos nove primeiros meses de 2008 era 6,1% maior que no mesmo período de 2007. Tudo virou fumaça. Voltamos a patamares de 2004.

Esse quadro revela a desaceleração do investimento e prenuncia um 2009 muito difícil. A pauta do ano será a crise e ela exigirá de todos nós – governo, empresários, trabalhadores – um esforço extraordinário para a reestruturação da nossa economia.

Temos que encontrar urgentemente espaços de convergência e diálogo, construir e colocar em prática, de forma tempestiva, uma agenda comum de medidas capaz de promover o ajuste adequado para enfrentarmos a crise com sucesso.

A grande tarefa é evitar uma longa recessão. Isso dependerá do desenvolvimento da nossa capacidade de articular, alinhar e mobilizar o enorme acervo de competências que se encontra disperso e subutilizado. E é exatamente isso que está sendo colocado à prova.

Responder a atual situação exigirá vontade política, superação de nosso viés personalista e muitos sacrifícios. Só a união de esforços é que nos proporcionará poder para mitigar os piores efeitos da crise e, simultaneamente, colher os melhores frutos que ela certamente há de propiciar.

Há razoável grau de entendimento de que precisamos de remédios fortes e de uma boa dose de coragem para enfrentar estes tempos bicudos. Na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) da presidência da República ficou claro que há espaço para um entendimento entre governo, trabalhadores e empresários. A agenda desse entendimento é ampla, mas o vital é dar atenção às seguintes questões:

    * Fortalecer a atividade econômica com incentivos às exportações, ampliação de crédito e desonerações de impostos;
    * Intensificar a ação do Banco Central para estabilizar o câmbio e para restaurar o crédito ao comércio internacional;
    * Restabelecer o crédito interno destinado às atividades produtivas, intervindo junto aos bancos públicos e privados;
    * Manter os investimentos públicos e uma política fiscal capaz de compensar a desaceleração dos demais componentes da demanda agregada;
    * Acelerar o calendário de redução da taxa básica de juros, ampliar a liquidez e fazer cair o custo final do crédito para as atividades produtivas.

No CDES ficou clara a necessidade de união e que há ambiente na sociedade para buscar um entendimento comum. Esse sinal é essencial para que possamos trabalhar em torno de objetivos que nos ajudem recuperar o círculo virtuoso de crescimento e redução da desigualdade que vínhamos trilhando.

A construção de um consenso mínimo é indispensável, assim como é indispensável adotar um sentido de urgência que faça com que as medidas necessárias para combater a crise sejam postas em prática com rapidez.

Nós empresários temos papel relevante neste processo. O desafio é colocar em prática nossa capacidade de articulação. Andamos um bom trecho nesta direção, ampliando a interação com o governo e os trabalhadores. Falta ainda envolver o sistema financeiro, que é um ator relevante para o desenvolvimento de soluções que propiciem o resgate da dinâmica econômica.

As expectativas sobre 2009 pioram a cada dia. O investimento privado é reflexo disso. Se entrarmos numa espiral de redução de emprego e renda, a queda do consumo poderá sancionar um ano ainda mais amargo e um forte retrocesso no bem estar da população em geral.

O tempo aqui é um fator crítico. Poderíamos estar melhor se tivéssemos prestado atenção aos sinais de reversão na atividade econômica a partir de setembro de 2008. Quem sabe o necessário sentido de urgência nos leve a perceber que não se pode esperar que o Comitê de Política Monetária se digne a fazer reuniões apenas a cada 45 dias, como se tudo continuasse como antes do colapso do Lehman Brothers.

O momento exigirá muito de todos. O interesse maior deve ser proteger a nossa economia. Assim, é vital que nos organizemos para participar de forma competente tanto do processo de redesenho da economia mundial quanto da formulação de uma estratégia que possa beneficiar a nação de forma abrangente e sustentável. É isso que nos fará vencer a crise e prosperar.

*Rodrigo da Rocha Loures é presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep)
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