por Osman Gadoso
Peixes
É permitido pisar na grama. Mais de 60 anos. Acordou com o raiar do dia. Tinha ouvido a chuva em meio a um sonho esquisito. Abriu a porta. O cachorro saiu e foi se acomodar no cantinho junto à cerca. Ele foi lá. Fez um carinho. Recebeu o olhar sempre apaixonado. Aí viu a grama molhada e de um verde de ferir os olhos. Olhou os pés. As unhas grandes. Mas, num impulso, tirou as sandálias e pisou. O direito primeiro, feito jogador de futebol. Depois o outro. E aconteceu de vir a infância. A rua de terra. Como era bom brincar depois da chuva. Amassar barro. Fazer barquinho de papel e colocá-lo para navegar na enxurrada. Olhou as margaridas. Na janela. Como na música de Benjor. E todas as ávores e arbustos dali. E os cactus. Uma orquídea na sala. Copas de araucárias no horizonte. Viu uma cruz no topo de uma igreja distante. Fez o sinal da cruz. Gesto também esquecido desde que saiu do colégio de freiras ao fim do primário. Era um dia de domingo.
Que bonito…
Parabéns! Lindo…
Não saio de casa sem ler o horóscopo do blog.