Cena curitibana. Na entrada do Bosque do Papa um carrinheiro estacionou seu veículo ontem à noite e dormiu o sono dos justos até há pouco. Os papelões que recolheu serviram de colchão. Perto dali, embaixo de um arbusto, ao lado do rio canalizado, outro homem também passou a noite sob a luz da lua. Usou como travesseiro uma garrafa vazia de Jamel.
Seria este texto uma repetição daquilo que Jack London descreveu de forma genial no Tacão de Ferro ou no Povo do Abismo por volta de 1900?
É a vida como ela é, Zé…
Normalmente não vemos os mendigos. Quando eles passam a ser vistos é porque algo está fraturando no contexto social. Nunca o Estado foi ao encontro dos mendigos. Quando muito tem um serviço para albergá-los, se procurarem. O mesmo com relação aos menores e jovens abandonados que vivem nas ruas. O Estado não vai ao encontro deles. E eles não vão ao encontro de ninguém. Isso é assistência social que não atinge o fundo da questão. Nem de leve.
Que ciúme que da Zé, sem lenço, sem documento,sem compromisso. sem estress, so vivendo como achar melhor.
O que eu bebi de Jamel, dava prá comprar uma safra de cana da Santa Terezinha, dos Meneghetti. Sem saudades nenhuma…
Eles são örganizados dentro da bagunça que é a vida pra eles.
Exemplo, muitos usam árvores como armário. Bueiro como cofre. Tudo o que seja ôco, vira mobiliário urbano.
O grande problema deles é o banho. Comida, sempre pinta, dizem eles.