11:30A recepção

por JamurJr.

Uma das características que marcam a personalidade do caiçara em nosso litoral  é a grande facilidade de colocar apelidos. Isto tem sido constatado ao longo dos anos em cidades como Paranaguá, Guaratuba, Morretes, Antonina, Matinhos, Itajaí, São Francisco do Sul, Florianópolis e por aí afora. Colocam apelidos com precisão e num improviso super rápido. O jeito de andar, de falar, a roupa que veste, qualquer detalhe serve para inspirar um novo apelido. São apelidos tão bem colocados que pegam forte e muitos deles ficam como herança para os descendentes. Existem famílias inteiras com apelidos que passam de pai para filho, para netos e bisnetos. Em campanhas eleitorais é comum encontrar propaganda de candidatos onde o nome de batismo é omitido dando lugar ao apelido. E se não for assim o eleitor não consegue identificar o candidato.  Em Paranaguá há muitas e boas histórias a respeito de como determinados apelidos foram colocados em  suas “vítimas”.

 Na época em que a maioria das pessoas viajava de trem entre Paranaguá e Curitiba, a Estação Ferroviária  vivia repleta de passageiros e carregadores de malas que disputavam clientes.  A chegada do trem era uma festa. Meninos vendendo balas, maria-mole, quebra-queixo e doce de banana. Mulheres elegantes, algumas de chapéu, outras menos, com um lenço sustentando o penteado onde se destacava um grande topete, levando em uma das mãos uma “frasqueira” e na outra um leque com estampa espanhola.

Contam que em certa ocasião chegou um cidadão muito bem vestido, terno completo, incluindo o colete, um chapéu Ramenzoni, cheio de malas, revelando grande dificuldade para segurar objetos. O homem sofria de uma doença que estava atrofiando suas mãos. Uma delas já mal conseguia abrir. O carregador pegou suas malas e saiu em direção ao Hotel Palácio, que ficava na Praça Fernando Amaro, distante menos de duzentos metros da estação ferroviária. Chegando na portaria do hotel, largou a bagagem em frente ao funcionário da recepção e ficou esperando o cliente que vinha logo atrás. Foi quando o recepcionista do hotel fez a pergunta que resultou num apelido famoso:

-Escuta aqui, Jango, de quem é essa bagagem.

-É daquele “Mão de Gengibre” que vem ali de terno azul.

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4 ideias sobre “A recepção

  1. Gonzaga

    Amigo Jamur, vou contar então um apelido genial e creio qe não só as cidades litorâneas propiciam essa característica de “brindar” pessoas com apelidos, mas também aquelas cortadas por um rio. É o caso de Sengés, por exemplo, onde uma figura local que tinha um dos olhos meio-fechado. Não deu outra: ficou conhecido como “Pontaria”.

  2. Gilberto Fontoura

    Jamur, salve.
    O Luiz Geraldo Maza contou a do sujeito que chegou em Paranagjuá e não queria, de jeito nenhum, ganhar um apelido. Foi para o Hotel e isolou-se de todos. Não saiu do quarto. Vez ou outra ia até a janela para dar uma “espiada”. Uma hora teve que sair. Aí ouviu o apelido: ” lá vai o cuco… “. Abs. Gilberto.

  3. LINEU TOMASS

    OLÁ GILBERTO.

    ABRI ESTE ITEM PARA CONTAR A MESMA HISTÓRIA DO “CUCO”. SEJA COMO FOR, PEGO CARONA NO TEU TEXTO.

    ABRAÇOS DO LINEU TOMASS.

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