Do UOL:
João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, dono da extinta fábrica brasileira de carros Gurgel, morreu nesta sexta-feira (30) em São Paulo. Gurgel, de 82 anos, tinha Alzheimer e foi internado no hospital São Luiz, na capital, onde faleceu. O enterro será neste sábado (31.) A Gurgel Motores S/A foi fundada em 1962 e deixou de fabricar veículos em 1994. Os carros, com carroceria em fibra de vidro, eram totalmente nacionais, com projeto, fabricação e capital do Brasil. O mais popular foi o BR 800.
O Amaral Gurgel foi mais um dentre os brasileiros desdenhados pelo Governo. Governo algum valoriza a pesquisa, provocando o êxodo dos nossos cientistas, recebidos no Exterior com tapete vermelho. Desde Santos Dumont. Aliás, sua estátua (a de Dumont) no Parque das Cataratas é mais identificada pelos turistas estrangeiros. Observer que grande maioria dos caras-pálidas patrícios sequer sabem que ele inventou o avião, mesmo que na França). Durante a Ditadura então, a evasão foi maior ainda pois a milicagem não tolerava a convivência com a sabedoria.
Mais sobre Gurgel: Se alguma entidade govenamental inventar de homenageá-lo, será mais uma mostra de hipocrisia. Nossos governos apoiam empresas estrangeiras que aqui se instalam, ganham dinheiro, exploram nossa mão-deobra barata e mandam o lucro para suas matrizes. Falar em limite de remessa de lucros é coisa de xenófobo, dizem os entreguistas. Quem sabe da história do Amaral Gurgel, conhece bem a sua ‘via-crucis’. Sniff…Sniff…
Sou admirador de João Gurgel. Sua trajetória lembra a do americano Preston Tucker e seu Tucker Torpedo. Sua história é contada no filme “Tucker, Um homem e Seu Sonho”, dirigido por Francis Ford Coppola (até o diretor tem nome de carro). A diferença é que Gurgel enfrentou muito mais dificuldades que o americano, pois, fundou uma Montadora num país pobre, não só financeiramente como cultural e moralmente, onde as Montadoras estrangeiras, as únicas existentes no Brasil, mandam e desmandam em muitos dos mais importantes políticos e donos do poder, não só na atualidade, como também, durante o regime autoritário anterior.
Merece todas as homenagens este grande empresário, que ousou sonhar além do senso comum
É lamentável o pouco destaque que sua morte mereceu na grande mídia.
Vai-se um brasileiro da melhor qualidade, um bandeirante do progresso e da indústria nacional. Homem rico, nascido de família tradicional, preferiu o caminho mais difícil, mais duro, o de enfrentar as multinacionais tentando produzir um bom carro 100% brasileiro. E conseguiu!
Registre-se, porém, que sua bela aventura começou a declinar quando caiu no conto do então governador do Ceará e lá foi montar uma fábrica da Gurgel. Depois de inaugurada, com bandas e foguetes, o crápula negou-lhe o prometido financiamento do banco do Estado. Seu nome: Ciro Gomes.
Que a terra seja leve ao saudoso Amaral Gurgel.
Concordo com o descaso de nosso país a homens de valor.
Agora, é justo lembrar que, quem conhece bem a Amazonia Legal, ha de lembrar dos pátios do Incra e outros orgãos federais, cheios de Gurgel parados. Mas isso não coisa de um ou dois. Dezenas deles em cada point da região. Somando-se, centenas
Viajei durante dois meses por essa área em 81, quando Rondônia foi instituido Estado, para um veiculo nacional, e quando perguntei o porque daquele disperdício, me responderam que o chassi quebrava. Não aguentava o tranco, fazendo-os voltarem aos Toyotas. Agora, vä saber até que ponto isso era verdade, não é?
Mas, fato é que alguém tentou prestigiar o produto nacional. Já se outro boicotou ou se o produto era deficiente, é outra história.
Não querendo minimamente diminuir as virtudes do empresário, esse fato é história e merece ser registrado.
Em tempo, a Bebeti Amaral Gurgel, que fez jornalismo comigo na federal, é o que dele? alguem sabe?
A saga do brasileiro Gurgel não é fato isolado. O que faz lembrar o dito de Nelson Rodrigues: “O que atrapalha o brasileiro é o próprio brasileiro. Que Brasil formidável seria o Brasil se o brasileiro gostasse do brasileiro.”