por Osman Gadoso

Gêmeos

Não esquente. Ninguém é nada. Não confie no que vê na tela. Talvez aqueles deslumbrados sejam o mais próximo do nada. Porque são apenas o que fingem. Você aí é o cara. Porque sofre, ri, se embebeda, apaixona-se, briga, xinga o patrão, briga com a mulher para fazer sexo alucinante depois, pega ônibus lotado, respira poluição, se emociona com o bem-te-vi na janela, é honesto, acha todo político um pulha, ladrão descarado, vota neles, para xingar mais, reza, vai ao terreiro, cheira o cabelão da evangélica, bate uma bola quadrada no final de semana, fala besteira direto, dá gargalhadas, fica tímido diante de estranhos, recebe cafuné dos filhos, retribui, reverencia os pais, liga para aquela vizinha do tempo da infância, lembra do medo dos filmes do drácula, gosta de sangue nas manchetes, também de gols, fofoca, teme ao demônio, tem quadrinho de anjo da guarda no quarto, pinguim na geladeira, andorinhas de porcelana na sala, nunca feriu ninguém, nem bateu, só levou um muquete uma vez porque estava trêbado e incômodo, sempre olha a lua, o sol, as montanhas, o mar, a grama, rua de terra, ganha uma merreca, mas faz milagre porque um dia ganhou mais e gastava tudo, joga no bicho e na megasena apesar de não acreditar muito, pode mandar qualquer um, do papa ao governador, tomar dentro, porque não deve, por isso é tudo, menos nada.