8:18“Guerra” entre árabe e judeu em Guaratuba*

Por JamurJr.

Sobre o encontro de políticos e empresários(árabes e judeus) vivendo um momento significativo de paz e harmonia, como sempre aconteceu no Brasil, gostaria de fazer um breve relato de ocorrencia em Guaratuba dos anos 40. Havia na beira da baía (Ruada Praia) o armazém do “seu” Máximo, um libanês que chegou a Vila de Guaratuba por volta de 1905. Falava português com forte sotaque, ria bastante, era feliz e amigo de todo mundo. Do outro lado da estreita rua, a loja de Armarinhos do “seu” Tobias, um judeu que viveu todos os anos de sua vida na mais absoluta paz com o vizinho e concorrente árabe. Mesmo a concorrência, que algumas vezes descambava para pequenas sacanagens, não alterou a amizade entre os dois comerciantes. Certa ocasião o Máximo colocou à venda  um tipo  cobertor, chamado ” tomara que amanheça”, a um preço bem baixo. Vendeu muito bem nos primeiros dias, mas logo notou que alguns fregueses estavam comprando de seu concorrente e vizinho. Num dia foi até a canoa de um cliente antigo e constatou que este havia comprado um “tomara que amanheça” igual aos que vendia. “Por que não comprou o cobertor no meu armazém?”  perguntou o libanês. “Sabe, seu Máximo, este do Tobias é maior e tem o mesmo preço”. De volta a seu estabelecimento, foi fazer a verificação na mercadoria e não encontrou nada de errado. Tamanho, acabamento, espessura, tudo certo. Mais tarde o história foi esclarecida:Tobias pegou um cobertor igual ao do concorrente e cortou um pedaço de vinte centímetros. Quando o freguês perguntava por cobertor, ele mostrava o menor, acompanhado de um argumento convincente: “Este é o que você compra no armázem do Máximo. Veja que é menor que este que eu vendo pelo mesmo preço”. A guerra entre este judeu e o libanês nunca passou de pequenos truques para melhorar as vendas.

* Publicada no meu livro “Memória Caiçara – Histórias de Guaratuba”

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Uma ideia sobre ““Guerra” entre árabe e judeu em Guaratuba*

  1. Gerson Guelmann zs

    Jamur, esta é uma história maravilhosa, que adquire cores ainda mais fascinantes graças à tua verve. Certamente muitos outros árabes e judeus aqui de Curitiba, primos por parte do patriarca Abraão, conhecem e podem contar várias do mesmo tipo. Relatos que vão de sociedades em negócios, casamentos “mistos” e amizades de uma vida inteira. Parabéns, “turco”, e um abraço saudoso.

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