por Osman Gadoso

Áries

Um dia ele sentiu o horror de uma guerra, mesmo sem nunca ter chegado perto. No campo de treinamento de tiro de canhões, viu gente recolher os fragmentos de aço daquelas ponteiras de mortes dos projéteis. Alguém deu uma explicação simples: não era a explosão, mas sim os pedaços de todos os tamanhos que voavam em todas as direções. Uma lasca poderia varar vários corpos. Pedaços maiores, como aqueles dos ovos de chocolate, arrancariam cabeças. Quanto tempo faz? Quantas guerras por qualquer motivo já aconteceram depois disso? Ele jamais esqueceu aquela cena que presenciou numa tarde de sol e nuvens brancas em Minas Gerais. A tela de tv banaliza emoções, mesmo quando os olhos das crianças assustadas parecem querer saltar dali para gritar de medo. Quantas bombas com grande poder de destruição estão caindo neste instante no mundo? Quantos estilhaços estão varando corpos, exterminando vidas, enchendo de júbilo macabro gente que nunca nem ouviu o estampido de um tiro de 22? Ele lê, ouve discussões a respeito do direito sagrado de se exterminar o próximo. E sempre lembra do horror que sentiu sem chegar perto de uma guerra. Aquela lasca de realidade entrou pelos olhos, estraçalhou sua alma e se alojou para sempre na mente.