20:13Henrique 147%

Da coluna de Paulo Vinicius Coelho, publicada ontem na Folha de São Paulo:

Em 2008, a Traffic teve 147% de lucro em seis meses, entre a compra do zagueiro Henrique do Coritiba e a venda ao Barcelona. Mais lucro do que qualquer ação da Bolsa em 2007, quando os índices ainda subiam e a Vale foi recordista com 138% de alta em um ano. O Palmeiras, barriga de aluguel onde a Traffic pôs Henrique, não tinha dinheiro para comprar, usou o atleta por seis meses, arrecadou 20% do lucro, mas concluiu que precisaria do zagueiro por mais alguns meses. Ou seja, o clube precisava fazer voz mais grossa e determinar que não venderia, enquanto não alcançasse o resultado técnico imaginado.

O clássico dos investidores

É incrível como os meses de janeiro servem para trocar nomes de jogadores pelos dos fundos de investimento

O GRUPO SONDA ficou chocado nesta semana com a investida do empresário Carlos Leite para levar o centroavante Souza para o Corinthians. Na disputa, o Sonda representava o Santos, derrotado na negociação. O diretor do grupo de supermercados lamentou não ter sido respeitado pelo atacante, com quem, diz, tinha um pré-contrato. Mais ou menos a mesma situação vivida pelo Palmeiras com Thiago Neves, no ano passado. Thiago preferiu permanecer no Fluminense, com o apoio do Sonda, embora tivesse assinado pré-contrato com os palmeirenses.
A semana terminou com o Palmeiras sonhando manter o atacante Kléber no Parque Antarctica. Não há dinheiro da Traffic que ajude a segurar um jogador já na casa dos 26 anos. Mas um grupo italiano poderia formar novo fundo de investimentos para manter o atacante vestido de verde por mais uma temporada.
É incrível como os meses de janeiro têm servido para trocar nomes de dirigentes e jogadores pelos dos fundos de investimento. Os mais famosos, Sonda e Traffic. Nos anos 80, havia quem comprasse telefone -acredite!- para investir seu capital. Nos 90, compravam-se automóveis ou dólares. Coisas do século passado. Nestes novos tempos, o negócio é comprar e vender jogadores.
Não é ruim a presença desses fundos. Tem parecido mesmo a única maneira de colocar capital em clubes combalidos pelas décadas de dívidas e até mesmo na Europa, onde Porto e Sevilla usam receitas parecidas. A questão é controlar a fúria e a rivalidade que começa a existir entre esses investidores. O Painel FC noticiou, nesta semana, a áspera discussão entre um representante do Sonda e outro da Traffic, num restaurante de São Paulo. É uma das evidências de como essas relações precisam de um freio.
Há outras. Em 2008, a Traffic teve 147% de lucro em seis meses, entre a compra do zagueiro Henrique do Coritiba e a venda ao Barcelona.
Mais lucro do que qualquer ação da Bolsa em 2007, quando os índices ainda subiam e a Vale foi recordista com 138% de alta em um ano. O Palmeiras, barriga de aluguel onde a Traffic pôs Henrique, não tinha dinheiro para comprar, usou o atleta por seis meses, arrecadou 20% do lucro, mas concluiu que precisaria do zagueiro por mais alguns meses.
Ou seja, o clube precisava fazer voz mais grossa e determinar que não venderia, enquanto não alcançasse o resultado técnico imaginado.
Como as relações entre fundos e clubes não estão equilibradas e como a crise mundial tirou capacidade de investimento de muita gente, os clubes sem parceiros formais têm sido mais bem-sucedidos na temporada de reforços. Em janeiro de 2008, o clássico do país parecia ser Sonda x Traffic. Hoje, os atletas preferem jogar pelo Corinthians ou pelo São Paulo, este veementemente contra sociedades com investidores.
Por que o desejo de jogar no São Paulo? Ao chegar ao Morumbi, o lateral Júnior César avisou que lá tem chance de ganhar todos os títulos. Por que a opção pelo Corinthians? O centroavante Souza anunciou que seu sonho é dividir a grande área com o Fenômeno Ronaldo. Um sonha com taças, outro com seu ídolo. Duas mercadorias que não estão disponíveis em qualquer prateleira.

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