7:44HORÓSCOPO

por Osman Gadoso

Capricórnio

Justamente quando a situação parece sem saída, vislumbramos uma luz. Ele nem lembrava mais há quanto tempo tinha ganho aquela folhinha onde há apenas o número do dia, sem mês, sem ano, porque para sempre. Talvez o velhinho japonês que dividia com o filho um pequeno estúdio de fotografia no bairro de São Paulo, ao lado do boteco onde ajudava o pai na adolescência. Só sabe que carregou aquilo durante décadas, sem saber por quê, mas carregou e pendurou em paredes de diversas casas, de diversas famílias que fez parte e saiu. Atravessou tantas tormentas internas e externas e as cicatrizes no rosto e nos braços eram uma prova de que, sabe-se lá como, sobrevivera. As coleções de jornais que carregava em cada separação, doou para a biblioteca pública. Os piões, as bolinhas de gude, os estilingues, as fotografias e a folhinha, guardou. Lembra que, em certas ocasiões, ao trocar o dia, leu a frase, mas era como se estivesse olhando para uma fórmula apresentada na aula de química que tanto odiava. Navega em mares tranqüilos há muito tempo, mas só hoje, talvez por não ter se sentido bem no final da noite do dia anterior, ao procurar o pó de café deu de cara com com ela. Substitui o 30 pelo 31, último dia do ano, e finalmente soube porque carregava a pequena folhinha com as páginas amarelecidas pelo tempo.

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