por Osman Gadoso
Virgem
O mais difícil quando se acorda embaixo dos entulhos é ter paciência suficiente para esperar o vento soprá-los para longe. Se você atravessou guerras, tempestades, descasamentos, traições e acha que é um experiente na vida e que nada mais o afetará, prepare-se. Respiração correta ajuda muito, mas é preciso a yoga para ensinar e muito treino para que entre na massa do sangue. É preciso manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo. Sim, Walter Franco cantou isso um dia antes ou depois de berrar “Canalha!” num festival da canção popular dos brasileiros. Mas é assim que se aprende. Pelos ouvidos. Pelos poros. Pelo olhar. Pelo tato. Experimente empurrar o entulho. Ele só parece espesso, podre e com um peso de milhões de toneladas. Palha! Abre-se um buraco para o azul. Para o branco. Para o poder da luz. Então é possível caminhar. Mas o entulho está por aí. Por aqui. Dentro dos outros. Dentro de nós. E ele um dia aparece. Mas é por pouco tempo. Depende da gente.
” Elevai a tal ponto a alma que as ofensas não possam alcançá-la”
R. Descartes