por Osman Gadoso

Sagitário

Olhou para os dedos compridos do pé da menina que provava uma sandália tipo plataforma numa loja de shopping. Eram iguais aos dele. Seu coração riu, duas lágrimas vieram e pararam antes de rolar pelo rosto. Uma dúzia de rosas vermelhas ele já tinha dado e um bilhete onde escreveu da forma mais simples a importância da existência daquele amor em forma de gente. E olha que ele ficou tão longe dela durante tantos anos… Desde que ela nasceu, praticamente, e o motivos foram estes desvios da vida que são desvios da vida, nada mais. Flashes espoucaram em sua mente, de há muito sem nuvens negras. Ela desfilando numa passarela, a defesa da tese na faculdade, o telefonema da aprovação no vestibular, uma viagem de ônibus ao nordeste, um foguete nadando na piscina do clube, uma foto no carrinho de bebê, o aparelho nos dentes odiado, ela tão pequena no ponto do ônibus depois da aula no colégio público. E aquela sessão na terapia onde foi preciso ambos ouvirem, depois de ataques e choros, que tinham um amor tão grande mas uma imensa dificuldade de se delcarar, de se tocar. A voz dela, maravilhosa, cobiçada por profissionais, agora não sai com o envólucro das armaduras da alma. E ela abraça como se tivesse descoberto o que se desvendou para ele depois de muito, muito penar. Ele fica feliz porque a vida lhe tem sido grata. E esse é um presente que ela lhe deu no dia do aniversário dela.