9:28Sanepar “naquela água”

A julgar a principal nota publicada hoje pelo jornalista Celso Nascimento, na Gazeta do Povo (leia o texto na seqüência), o governador Roberto Requião não só não conseguiu aniquilar o Consórcio Dominó da sociedade com a Sanepar, como agora se esforça em afundar a própria estatal. Coisa de doido!

por Celso Nascimento

Tem gente que anda desconfiada da genialidade de Requião e começa a achar que ela pertence à categoria das lendas urbanas. Vejam só: graças a uma decisão do governador, a Sanepar acaba de ser rebaixada na classificação da Moody’s – a agência internacional que mede o risco das empresas com ações negociadas em bolsa. O que a Moody’s quis dizer com isso é que os papéis da estatal paranaense não são exatamente um bom negócio para os investidores.

Dada à ojeriza que devota ao mundo capitalista, compreende-se a dificuldade de Requião entender (e conviver) com as peculiaridades do mercado financeiro – mas o espanto foi geral quando, na semana passada, exigiu que a Sanepar devolvesse aos cofres públicos R$ 760 milhões que o governo investiu na companhia ao longo dos últimos anos.

Em princípio, esse valor seria convertido em participação acionária do estado no capital da Sanepar e seria usado para reduzir a quase nada a participação relativa do sócio privado, o grupo Dominó, detentor hoje de 39% do capital. O Dominó entrou na Justiça e barrou a realização da assembléia convocada pela Sanepar para mudar a composição acionária.

Revoltado com a decisão judicial, Requião “vingou-se” e exigiu o dinheiro de volta, com o argumento de que, com ele, constituiria uma nova empresa de saneamento, puramente pública e livre do indesejado sócio Dominó. Como, claro, a Sanepar não tinha esse dinheiro guardado debaixo do colchão, contabilizou os R$ 760 milhões como empréstimo – na prática, assumiu uma dívida de curto prazo junto ao Tesouro estadual, conforme decisão – também considerada espantosa – que o Conselho de Administração da companhia tomou na semana passada.

Resultado: a Moody’s, ao saber da situação, entendeu que, dadas as atuais restrições mundiais de crédito e devido ao já alto índice de endividamento que a companhia apresentava, tornou-se arriscado investir em papéis da Sanepar, por falta de garantias. Ou, em outra interpretação, diminuiu o valor da empresa.

Mas a coisa é ainda mais grave: além de não conseguir o objetivo de receber imediatamente o dinheiro de volta, a cobrança de Requião provocou outro indesejável efeito – reduziu drasticamente a capacidade da Sanepar de tomar novos financiamentos para custear futuros projetos no estado.

Capitalismo e mercado financeiro não são para amadores.

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Uma ideia sobre “Sanepar “naquela água”

  1. jango

    Ze Beto:

    É doidera administrativa, mas, o Inquilino do Canguiri, que se saiba, não rasga nota de 100 reais; ele comete essas temeridades porque sabe que não há nenhuma reação a elas nem das ditas autoridades de controle público nem da sociedade. Aquelas (salvo exceções notórias) vivem no compadrio escandaloso com o governo de plantão; esta, a sociedade, encontra-se no estado de anomia, ninguém sequer pia, não se dá valor. As notícias dos decalabros são diuturnas e nada acontece. Então assistimos este quadro patético no Estado onde “nada é apurado, ninguém é punido”, conforme apostrofou o deputado Gustavo Fruet.

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