por Leon Gadoso

Aquário

Não reclame da chuvinha que cai agora. Ela é de Deus. O bicho homem é que abusa da paciência e arrasa tudo com a voracidade daqueles bichos de filme japonês, os Godzila das telas. Há uma teoria de que a chamada inteligência humana não é nada mais do que um vírus que se criou durante a cadeia da evolução. Tem sua lógica. O que salva, às vezes, é o não explicável, ou seja, a alma, o amor, essas coisas. Vejam o que acontece com os grandes aglomerados humanos, as chamadas cidades. Vistas de cima são amebas gigantes – e as amebas merecem pedidos de desculpas pela comparação. A devastação, a poluição, a matança generalizada, a busca desenfreada pela celebridade instantânea, o atropelamento dos valores mais simples, a falta de respeito, enfim, este inferno embalado sob o rótulo de modernidade tem um preço, e não vai ser carro blindado que vai proteger. De repente, por exemplo, poderemos passar a ouvir o grito das árvores, das plantas, dos rios, das montanhas, das geleiras, e ser atacados por todos os animais selvagens, domesticados e pestilentos. Não será o apocalipse. Nós estamos nele. Até Antonio Conselheiro sabia disso em sua loucura santa e potencializada pelo sol nordestino. Por isso foi aniquilado em Canudos. Para que mesmo? Então, aquariano, olhe bem para esta chuvinha gostosa. Se possível, vá para debaixo dela, erga o rosto para o céu, sinta-a, vá para a grama ou, de preferência, um terreno ou rua de terra, fique descalço (pode ser na grama), feche os olhos. Ainda há esperança.