9:22Horóscopo

por Osman Gadoso

Leão

Não se abestelhe com o que você acha ser o motivo de sua superioridade, seja ela a grana herdada, surrupiada ou ganha no emprego nobre na multinacional, ou ainda a coleção de informações que sua cabecinha assimilou e assimila. Lembras da última vez em que sorriu da e para a vida? Assim, de graça, ou com a graça de alguém? A menina que trabalha no café do supermercado é negra, miúda, nariz achatado e usa uma toca branca que lhe esconde a cabeleira pichaim mais negra que a pele, mas da cor dos olhos que são jabuticabas dançantes. Do balcão onde trabalha pode ver um prédio de bacana recém-construído. Prédio baixo, neste estilo que virou moda na cidade, neo-colonial-rococó-só mora quem tem muito. Uma cobertura duplex está à venda. Ela nem sabe que aquilo é um prédio. Nem imagina o que é R$ 1 milhão e acha que tem de trabalhar um ano para ganhar tudo disso, ela que deve receber salário mínimo da grande rede norte-americana. Não sabe também que o seu sorriso de dentes perfeitos, que ferem os olhos de tão brancos, e que nenhum dentista mágico jamais vai reproduzir com as técnicas mais avançadas de implantes, jaquetes, limpeza a laser e tudo mais, vale como uma benção a entrar na alma de alguém que acordou triste por ser humano, por chorar a saudade dos seres que lhe deram origem, de se sentir sozinho no mundo numa manhã de sábado de vento frio e céu de chumbo. Ela então serve o café com o mesmo cuidado de alguém que tira um bebê do berço. E dois sorrisos se cruzam neste canto do mundo.

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