11:10Horóscopo

por Osman Gadoso

Virgem

Ouviu no rádio que o número de sorte era tal. Jogou tal no bicho. Um sábado como hoje. Cravou a centena pelo sorteio da Loteria Federal. Lamentou ter apostado só R$ 0,50. Mas era o que tinha, o da sagrada “branquinha” matinal, sempre virada de um gole só para aliviar a dor do panelão no dente e enfrentar o dia. Parou de beber porque encanou que sua sorte tinha mudado. Do pago pelo bicheiro, separou um bom tanto para apostar diariamente. Sempre depois de ouvir o conselho na voz feminina da mocinha, ou velha, do programa da madrugada. Nunca mais ganhou nada. O dinheiro que tinha foi-se, ele começou a se desesperar porque não tinha mais como cravar a dica no bloquinho e em duas vias. Começou a assaltar quem freqüentava o bar onde tomava a talagada. Esperava para ver a vítima pagar, via se tinha troco ou se a carteira guardava algum mais. Saía atrás, encostava a ponta de uma faca velha nas costas, pedia para o otário sair correndo sem olhar para trás. Ele corria para o apontador e jogava. Continuava sem ganhar. E a assaltar. Um dia viu um bacana entrar no boteco. Devia ter passado a noite numa festa e estava no desvio naquele bairro miserável. Arriscou tudo quando o sujeito tentou entrar no carro depois de comprar um maço de cigarros. O tiro da Glock estraçalhou sua coluna. Nunca mais andou. Nem jogou. Vive de esmola. O atirador conta para seus amigos que poderia ter morrido. Mas estava num dia de sorte. Naquele dia deu o número tal.

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