15:42Quizumba pelos anais

Um artigo assinado por Belmiro Valverde Jobim Castor publicado ontem na Gazeta do Povo causou mais um estresse entre situação e oposição na Assembléia Legislativa do Paraná. O deputado Elio Rusch (DEM), líder da oposição, pediu ontem que o texto intitulado “Duas malditas palavras”, que versava sobre a reforma tributária apresentada pelo governo do Estado, fosse incluída nos tais anais da Casa. Luis Claudio Romanelli (PMDB), líder do governo, subiu nas tamancas, rodou a baiana e botou o Jabaquara em Campo e conseguiu barrar a intenção. Alegou que era uma provocação de Rusch porque o artigo foi “escrito por um legítimo representante das concessionárias de pedágio”, disparou. “Esse homem escreve a soldo das concessionárias; aliás, é conselheiro do Conselho de Administração da CR Almeida e também exerce outros cargos como construtor das concessionárias”, atacou Romanelli. Hoje a quizumba continuou. Elio Rusch subiu à tribuna e simplesmente leu o artigo, ou seja, as palavras de Valverde agora estão nos tais anais da Assembléia. Romanelli estava preparado. Trouxe o que ele chama de “ficha funcional” de Belmiro Valverde e leu: “Foi funcionário do Tribunal de Contas do Paraná entre 78 e 90. Nunca apareceu para trabalhar. Conseguiu aposentadoria de R$ 20 mil. Quem não quer aposentadoria dessa? Enquanto deveria trabalhar no TC, trabalhava no Bamerindus”. Aguardam-se os novos lances da muvuca. Enquanto isso, leiam aqui o artigo da discórdia:
Duas palavras malditas

por Belmiro Valverde Castor Jobim*

Algumas expressões deveriam ser definitivamente banidas do vocabulário político e administrativo brasileiro. Eis dois exemplos: aumento de tributos – a qualquer título, de qualquer tipo, sob qualquer pretexto, aberto ou oculto – e anistia fiscal – de qualquer natureza, a qualquer momento, sob qualquer justificativa.
No caso do aumento de tributos, não é necessária qualquer sapiência na área fiscal para entender que é puro e simples absurdo que os governantes não se contenham nos limites atuais já excessivamente generosos da tributação no Brasil e que ainda queiram ampliá-los; a população que paga sabe quando lhe dói no lombo a atual carga tributária – e o lombo do contribuinte brasileiro se assemelha ao do camelo da parábola do comerciante árabe que foi colocando mais e mais carga no dorso do animal. O pobre bicho foi agüentando sem piar – mesmo porque camelos não piam – até que o árabe colocou uma minúscula palha em cima da carga e, então, o camelo arriou. Os governantes parecem acreditar que é possível colocar mais e mais carga no lombo dos pagantes, confiantes que não será por mais uma palhinha que as coisas irão desandar. A palhinha mais recente é a “minirreforma fiscal” que a Assembléia Legislativa do Paraná está discutindo.
De minha parte, acredito que nem é necessário ir além de duas constatações simples, para não dizer simplórias: é um claro absurdo que alguém cogite aumentar impostos em um momento em que o mundo todo, inclusive o Brasil, sofre os impactos da crise financeira, em que empresários e trabalhadores enfrentam grandes incertezas e os governos do mundo inteiro gastam horrores para reativar suas economias. E é um absurdo que, ao procurar mobilizar recursos para atender os que mais necessitam, a única idéia que venha à cabeça dos governantes seja aumentar a carga fiscal, sem cogitar um só minuto a hipótese de reduzir as despesas públicas atuais, como se todas elas fossem indispensáveis, inadiáveis e incompressíveis – definitivamente não são. Há muita coisa que poderia e deveria ser desativada, muitos gastos que poderiam ser evitados ou reduzidos, muito desperdício que deveria ser coibido e muitas estruturas organizacionais que poderiam ser simplesmente extintas sem que alguém sentisse a sua falta. Basta querer.
Quanto à segunda expressão que deveria ser banida do vocabulário público brasileiro, a anistia fiscal, observa-se que, periodicamente, a piedosa iniciativa renasce sob os mais diferentes pretextos e formas. Uma hora é para “aliviar os pequenos contribuintes”, esquecendo-se de que milhares, milhões de outros pequenos contribuintes viveram as mesmas vicissitudes e suaram sangue para pagar seus tributos em dia e que não é justo tratá-los pior do que os que deram o calote; outras vezes, a desculpa é a “eficiência administrativa” pois seria mais barato perdoar o contribuinte faltoso do que cobrar o devido. Ora, esse argumento é ridículo, pois se os mecanismos do Estado se revelaram tão ágeis e eficazes para monitorar e cobrar de alguns contribuintes e tão lerdos e ineficazes a ponto de acumular uma montanha de dívidas não cobradas de outros, também não é justo que os faltosos sejam beneficiados pela incompetência estatal e os que respeitaram a lei, prejudicados. Tão simples assim.
Nessa peculiar “minirreforma” só temos uma certeza: pagaremos mais pelos telefonemas que dermos, pela luz que acendermos, pela gasolina que queimarmos. Quanto à redução dos preços dos produtos nos supermercados em que os governantes e os comerciantes parecem acreditar, deveremos esperar para ver se ela se materializa. Mas não custa lembrar a famosa frase de Adam Smith: “não é da boa vontade do açougueiro, do produtor de cerveja ou do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas do seu próprio interesse pessoal.” Se dependermos da boa vontade de alguém para baixar os preços e baratear nosso jantar, morreremos de fome, alimentados apenas pelo otimismo ingênuo do governo e pelas promessas vazias dos comerciantes de que demonstrarão altruísmo e espírito de renúncia suficientes para repassar adiante os ganhos que terão.

*Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

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19 ideias sobre “Quizumba pelos anais

  1. Zóio da Sete

    O Élio Sutiã Rush não tem vergonha na cara mesmo. Vai ser capacho das concessionárias assim lá em Marechal Rondon. Afinal, quanto ele fatura todo mês por defesas tão apaixonadas como esta?

  2. Edmond Dantes

    É difícil eu concordar em qualquer coisa com o Ramanelli, mas, nesta ele tem razão. A vida pregressa do Sr. Belmiro não o recomenda. O cara não passa de um grande “esperto”, “mama” nas tetas do Tesouro do Estado sem nunca ter trabalhado.

  3. Abadia

    Sr. Cego da Sete: o artigo diz respeito à reforma tributária e ao absurdo de sua implementação neste instante, digamos, peculiar da economia. Quem gosta das concessionárias é o Robanelli – que, como não tem argumentos, traz as concessionárias à baila para ver se a sua burrice faz eco.

  4. Dá-lhe

    Sem entrar no mérito das acusações do lider do governo mas o professor está eivado de razão. Seu artigo deve mesmo fazer parte dos anais da AL. Aliás o professor não falou nada além daquilo que todos nós já antevemos, isto é, que mesmo diminuindo aqui e aumentando acolá será no nosso já minguado bolso que a bronca vai estourar. Chega de aumento da carga tributária e sim a contenção de gastos públicos desnecessários. Palmas para o Belmiro!

  5. Genaro Flores

    Esse “professor”, que nunca suou na vida para ganhar o pão do sustento, só sabe defender o poderio econômico – como as concessionárias de pedágio – que esfola o povo trabalhador do Paraná. Sem paixão partidária ou de posição política, por favor, bajular mercenários não deve ser papel da Assembléia Legislativa. Que estes advogados das concessionárias procurem nos esgotos intelectuais um pouco de vergonha na cara.

  6. Diego

    O professor Belmiro é um excelente professor de Administração e muitos tiveram a sorte te ser seus alunos! Esse Romanelli só demonstra dissintonia com a opinião da galera!

    O Romanelli é burro! O Marcelo Almeida (que é do partido do babaca) deveria ir tirar satisfações com o palhaço em nome de todos os alunos do Prof. Belmiro!!!!

  7. Abadia

    Genaro “chavão” Flores: volta pra Bolívia, na companhia de outros que falem “o pão do sustento”; “o poderio econômico”; “bajular mercenários” e “esgotos intelectuais”. Leva o Robanelli junto, please.

  8. Pé Vermelho

    Pelo menos uma vez na vida o Roma tem razão. “O Brasil não é para amadores”, mas para espertos como este Belmiro Valverde, que é profissional em se dar bem. Aliás, o Tribunal de Contas deve vir a público para confirmar ou desmetir esta afirmação do Roma de que este cidadão fatura 20 mil de aposentadoria, sem nunca ter trabalhado no órgão. Já o tal artigo publicado na Gazeta está situado exatamente sobre a divisa larga da mediocridade com o articulismo amador.

  9. jango

    A grande verdade é que a Justiça vem dando ganho de causa às concessionárias e os aumentos vem acontecendo. Por outro lado, o passivo resultante das ações judiciais que o Estado vem perdendo está assomando a casa dos milhões a ser cobrado do erário público. – dinheiro do povo.

    Levantamento efetuado pelo Jornal do Estado, um ano atrás, dá conta que “as concessionárias calculam em R$ 170 milhões o montante que pretendem cobrar na Justiça por conta dos prejuízos materiais causados por invasões e depredações das praças de cobrança, os dias em que as cancelas foram mantidas abertas por manifestantes, desequilíbrios contratuais que não foram revistos pelo governo do Estado e os dias que as empresas deixaram de aplicar os reajustes tarifários por falta de autorização do Estado.” (coluna “Na ponta do lápis” de 07/10/07)

    A renitência ou incompetência do governo em resolver a questão vai resultar num prejuízo milionário aos cofres públicos. Esta responsabilização ninguém parece interessado em enfrentar, embora muitos discursos tenham sido feitos sobre o assunto. Como sempre querrrem deixar o esqueleto para o próximo governo e, a final, como sempre também, para o povo do Paraná pagar, quando este governo – governante e sua “base de apoio” – já longe estiverem dos cargos e mandatos no Poder Público.

    É lícito conduzir os destinos do Estado causando passivo de tal monta ? As ditas autoridades de controle público se fazem de desentendidas e a sociedade está tomada pela anomia reinante, não reage, não preza o seu dinheiro colocado nas mãos de governantes que dele fazem o que bem entendem. O deputado Romanelli fura ilícitamente catracas de postos de pedágio e não sofre nenhuma reprimenda. O povo vai pagar este prejuízo e parece que não se importa.

    Em vista disso, quando levanta-se uma voz contra a “Reforma Peter Pan Inversa”, aquela que tira do povo para encher as burras do governo, e analisa-a com fundamento e autoridade, expressando o que a população já está presentindo, temos que manifestar pleno apoio. Só disse verdade. Deve esta triunfar e não a mentira o engodo. No mais, a sociedade segue muda e cordeira. É lastimável.

  10. bozo

    Não acho que alguém que receba da CR Almeida (ou de qualquer empresa) possa escrever um artigo sobre reforma tributária sem ao menos identificar isso na sua apresentação.

  11. Zóio da Sete

    Ô Carequinha, tenho que tirar o chapéu pro senhor. Coloquei comentários no blog do Fábio Bleargh Campana e todos, sem exceção, foram vetados. Lá só tem falando loas para o tal professorzinho capacho das concessionárias.
    Quanto será que o Campan(h)a ganha fazendo jornalismo medíocre pra defender este escroque dos donos de concessionárias?

  12. advogado do povo

    não só pavão mas o típico curitiboca que faz comentários inúteis e vazios na tv universitária com ares de grande pensador e literato. é descomprometido com a aflição social , um tipo literário como o Pacheco do Eça de Queiroz tido como intelectual apenas pela pose e um certo empostamento de voz :como vai meu caro ? / ou quando analisamos a conjuntura econômica / / é um estilo fadado a uma cadeira na academia paranaense de letras . um esnobismo do vazio , um profeta do óbvio , um “causer” que tanto agrada a burguesia e que usa como mote sempre o ataque ao governo Requião , antes dele quem incorporava tal personagem era o Rafael Greca agora entusiamado Requianista , curitiba meus caros é isso .

  13. Balão de Ensaio

    Um grande escândalo do Governo Richa, a Surra da Polícia sobre os professores que quem está pagando o pato até hoje é Alvaro Dias, a aposentadoria no TC… quer mais

  14. advogado do povo

    parabéns Zé Beto . gostem ou não, hoje voce é o único espaço definitivamente livre na Internet, o verdadeiro speakers corners ( tribuna livre popular da Inglaterra).
    Infelizmente o jornalista Fabio Campana ou seu moderador passou a filtrar ou censurar comentários que julga desfavoráveis a seus amigos e protegidos . Nada tenho pessoal contra o professor Belmiro que pode ter lá suas qualidades , agora o fato é que com a postura do blog do Fabio em censurar os comentários dos leitores como comprovo e ídem o Zóio da Sete proponho que passemos a ler e mandar nossos comentários somente para o bravo Zé (que permaneça assim) e o Fabio que tome seu juízo e deixe de bancar o censor , ninguém mandou nada difamatório ou criminoso para ir para a gaveta , acorda Fabio e libera a democracia .

  15. Rock

    Estou com o Advogado do Povo, lá no Campana voce não pode falar nada do Rossoni, Betinho, Osmar e Belmiro Valverde que logo é censurado, eu mesmo muitas vezes tive que fazer igual as crianças e chorar as minhas magoas com o Campana que não publicava as minhas opiniões aqui com o Zé Beto que nunca me censurou, mesmo que em algums vezes joguei meio pesado com o Carequinha.

  16. Pé Vermelho

    Ei…o Pé Vermelho aí de riba não sou eu. Tão me usando. Nunca darei razão pro Roma e se falar que Deus existe, vou começar a duvidar.

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