15:06Ditadura Abaixo, por Tereza Urban

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Do jeito que veio, vai:

Contar aos adolescentes e jovens de hoje detalhes sobre a história do Brasil não é tarefa fácil, seja pela diversidade de interesses deles ou pela falta de disposição dos protagonistas. Foi buscando uma maneira de contar aos netos um pouco da própria experiência no movimento estudantil e também da história do Brasil que a jornalista Teresa Urban escreveu o livro “1968 Ditadura Abaixo”, que será lançado no dia 04 de dezembro, às 19h, na Livraria Arte & Letra.

 

O livro utiliza diversos modos para contar os fatos, incluindo uma história em quadrinhos na qual João e Maria são os personagens principais, aliada a uma extensa variedade de informações curtas retiradas de livros e jornais da época, não só o que aconteceu em 1968, mas todos os fatos marcantes que antecederam e sucederam o ano que marcou a militância estudantil brasileira.

De acordo com Teresa a idéia toda surgiu de uma necessidade pessoal de contar para as gerações seguintes detalhes a respeito daquela época. “Minha geração não teve oportunidade de trocar experiências com a geração anterior. O golpe militar cortou o fio que deveria nos ligar”, explica. “Com o nascimento de meu primeiro neto a idéia de contar essa história se tornou mais premente, mesmo assim, adiei por muitos anos”, completa a autora.

Para elaborar o livro e dar corpo ao seu formato, Teresa conta que recebeu uma assessoria importante: a do próprio neto, hoje com quase 16 anos, e de outros jovens da mesma faixa etária que mostraram a ela como contar uma história para a geração atual. Assim, ela afirma que foi possível compreender o que é necessário para tocar o coração e a mente dos jovens e como conversar com eles. “No livro há muitas informações rápidas, curtas, notas e letras de música que podem despertar o interesse dos jovens para a história deste que foi um momento tão importante na nossa história”, ressalta. 

A autora explica que a viabilização do livro só foi possível por conta de uma “ação entre amigos”, de antigos companheiros de 1968. O livro traz vários pontos de vista sobre a época tanto na política como na publicidade, cinema, literatura, música cultura, e sobre os acontecimentos que marcaram época no Brasil e no mundo como a pílula anticoncepcional, o lançamento da Revista Cláudia e a prisão de John Lennon e Yoko Ono por porte de drogas.

A contextualização é marcada por notas publicadas nos jornais da época que retratam as prisões de estudantes, os exílios, a publicação do Ato Institucional nº. 5 e pela documentação que faz parte dos arquivos da Delegacia de Ordem Política e Social, atualmente disponibilizada pelo Arquivo Público do Paraná. O levantamento destes documentos e a pesquisa contaram com a colaboração de jovens profissionais. “O trabalho de pesquisa e elaboração deste livro durou um ano de trabalho pesado e algumas madrugadas”, afirma. “Muita gente que não imaginaria um dia ter acesso aos documentos e nem fazer uma pesquisa neste acervo, vai conhecer o seu conteúdo”, relata.

Além da pesquisa nos livros e arquivos a elaboração da obra demandou também um mergulho baú de memórias da jornalista. “Esta não é apenas uma história pessoal, é uma história contada com liberdade, um mix entre o vivido e o aprendido. Os personagens da história em quadrinhos realmente são ficcionais, mas os fatos relatados não são”, lembra Teresa.

Outro fator importante, segundo a autora, é que o livro não termina em 1968, mas traz um pouco da história do que veio depois. Para ela este pós 68 também foi determinante para sermos o que somos hoje e por isso o livro mostra a tortura, a arbitrariedade, as mortes, a lista de desaparecidos e os fatos que vieram em seguida. “O Brasil ainda não discutiu todos esses acontecimentos claramente”, conclui.

Ilustrações – Outra parceria importante foi com o quadrinhista, ilustrador e artista plástico Guilherme Caldas, 35 anos, criador da história em quadrinhos. Ele conta que passou cinco meses trabalhando nas ilustrações do livro. Para tanto, ele assistiu ao filme “Lance Maior”, do cineasta Sylvio Back e afirma que procurou ser “o menos fantasioso possível, o mais fidedigno aos fatos e principalmente à forma como as pessoas se vestiam, falavam, ao que era moda na época”. O livro aborda o contexto do movimento estudantil em Curitiba e está ambientado na cidade em 1968.

Caldas afirma ainda que a Internet é um verdadeiro deserto em relação ao que aconteceu em Curitiba neste ano. Teresa vai ainda mais longe e afirma que a documentação sobre este período é escassa em todos os lugares. “Os jornais daqui, por exemplo, não têm arquivos de fotos sobre a época”, finaliza.

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