0:27Sinal vermelho

Paulinho da Viola é santo. Vi de perto. Ele estava num apartamento do Elo Hotel, perto do Teatro Guaíra, anos atrás, esperando a hora para fazer um show. Tinha que falar com o ídolo por uma questão futebolística, já que ele é brasileiro da gema e vascaíno doente. Missão jornalística. Para a Placar. Me recebeu no apartamento simples com o sorriso de quem sabe o ritmo certo da vida e contou que estava com uma gripe “daquelas”, mas precisava cantar, o público esperava isso. Febre alta, mas de tão nobre, nem parecia que o homem estava caidaço. Atendeu o repórter chato, respondeu com o maior prazer e sabedoria as perguntas sobre o chamado esporte bretão e mais algumas, só por curiosidade do intruso, sobre seu amor por carpintaria, paixão idêntica a de outro gênio, o cineasta Ingmar Bergman, e sobre Karman Ghia que guardava como relíquia na garagem de casa. Paulinho da Viola deveria ser eleito Rei do Rio para que tudo se espelhasse nele e a paisagem maravilhosa se espalhasse e transformasse e justificasse o título de cidade maravilhosa, que não é. Mas as folhas dizem que o homem que escreveu e cantou foi um rio que passou em minha vida, sobre a sua Portela, pode ir embora, apavorado que ficou com o assalto a mão armada que sofreu com sua amada. É até possível que os bandidos não conhecessem este monumento vivo do samba – o que potencializa o grau de insanidade da situação. Se o Rio de Janeiro perder Paulinho da Viola, o brilho que ainda resta à cidade, ficará opaco. Olá, como vai, eu vou indo e você, tudo bem? Sinal fechado e mais vermelho do que nunca.

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