13:34Suspeito. Muuuuiiiiito suspeito

De Antonio, o Conselheiro:

Acho você um cara muito suspeito. Não noto nada suspeito no seu comportamento, o que acho extremamente suspeito. Veja bem, um cara com a sua história sem nada de suspeito é demasiadamente suspeito. Suspeito que, por isso, serei obrigado a denunciá-lo. Assim, para que nunca venha a suspeitar de mim, te aviso com a devida antecedência: seus telefones deverão ser grampeados. Afinal, você é suspeito e não deve se surpreender com isso. Aliás, suspeito até que você já anda falando em códigos com pessoas por aí. Pessoas que em muito breve serão, também e com toda razão, suspeitas. Como você. Me lembra muito a história de um sujeito, sem eira nem beira, sem família, morador de uma favela (ôpa, suspeito: o nome agora é comunidade) que não tinha amigos. Um belo dia ele, talvez depois de tomar um goró na venda, ou seja lá por que motivo fosse, ao passar por um cara importante do bairro disse assim, à queima-roupa: – “Eu estou sabendo”. Meteu um sorrisinho na cara e foi em frente, meio sem saber por que, meio por conta do goró da venda. Passou a ser cumprimentado e convidado pelo cara e por um monte de outros importantes do lugar. Afinal, os importantes se freqüentam. Começou a receber prestígio, cargos, presentes. Aprendeu e vez por outra, meio en passant, jogava discretamente aquele – “Eu estou sabendo”. E funcionava. Cada vez mais. Um belo dia o cidadão aparece morto com uma bala na cabeça. Provavelmente, foi uma bala perdida, comum em “comunidades”. Mas o povo todo saiu comentando: – “Foi queima de arquivo. Sabia demais!”

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Uma ideia sobre “Suspeito. Muuuuiiiiito suspeito

  1. O RUIM, jeremias

    Guardadas as proporções parece Nelson Rodrigues, em “A Vida como ela é”.

    O conselheiro Antonio, no sábado, como de costume, cozinhou e comeu uma feijoada, como ele mesmo diz “tomou um goró”, deu no que deu: essa crônica muuuuuiiiiiiito suspeita, ou seria innnnnnsuspeita?

    Mostrou uma veia oculta que deveria, sempre, ser colocada à mostra.

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