15:24Ferradura de estrada

Por Walmor Marcellino

Pobres campônios, assim vivemos no entorno da dialética: um dia decepcionados com o projeto capitalista da transposição do Rio São Francisco, outro entusiasmados com a viagem política de Lula da Silva à Bolívia, num apoio oportuno ao governo democrático-nacionalista de Evo Morales. Um dia irritados com as manicurvas etanólicas do proletcult  ao imperial George W. Bush, noutro satisfeitos pelas conversas com Hugo Chavez sobre as complementaridades energéticas no Continente. Num dia apostrofamos as vacilações cavilosas de Marina Silva e Luiz Inácio no arrendamento da Amazônia aos inventados “empresários ecológicos”; depois tomamos conhecimento de que o Exército está construindo rede de quartéis para
defendê-la (ao custo de R$ 20 milhões a unidade, embora falte o dinheiro do superávit secundário), aos quais se somem instalações e unidades de aeronáutica e marinha.

De repente, reles republicanos, nos entusiasmamos com a possibilidade de construção de uma política de informação e educação públicas através de redes públicas de comunicação e educação sociais; e a seguir sabemos que os Hélios Costas sobremandam os Franklins Martins, e o que é público permanece restritamente estatal; e o que é decodificador de digital para pobre é uma porcaria para manter o público cativo da RedeGlobo, Bandeirantes, Record e similares (pois não é que um decodificador independente custa oito vezes mais?). E quando sabemos que a iniciativa privada democrática (Sesc/Senac) avança na popularização e socialização de estudos e debates, as redes estatais e estaduais trepidam confundindo uma linha estatal-governamental com uma linhagem pública. E para alçar essa área pública, vibramos ademais com a iniciativa (privada) de convergência com o que existe no mundo (ainda Sesc e Senac) nos sistemas, formas e métodos de educação, para nosso uso; enquanto tropicamos (e entropicamos debilmente) em discursos autógenos de
inteligência governativa; e então, como uma vanguarda política, a iniciativa das entidades econômicas é oferecida para a pauta e asdecisões nacionais do Partido dos Trabalhadores.

Uma no cravo, outra na ferradura e alfafa para o cavalo, que o caminho é comprido.

Pobres eleitores e ineptos cidadãos, quando nos abalançamos à investigação de causas e efeitos, quando cursamos o esforço crítico para discernir as coisas, um alegado cientista de plantão, na realidade algum fiscal de boatos, nos acusa de inimigos da Humanidade, da Pátria estremecida e do bom-senso no mercado venerável.

Um amplexo no gaiteiro, ou saudações socialistas?

Compartilhe

Uma ideia sobre “Ferradura de estrada

  1. Indignado

    Zé: mestre Walmor conseguiu, neste texto, a antítese, a tese e a síntese. Como dizem os alfacinhas, é do caraça!

  2. carlos barbosa

    Saudações democráticas, Walmor! Ótimo texto.Amplexo no gaiteiro é mais palatável para os defensores do deusmercado de plantão.

  3. Murdoch

    Manda o reles republicano pra Venezuela ou
    Bolivia pra ele discernir as coisas ou achar
    o parafuso.

  4. stella

    Ah, muito bem!

    Alguns admitem que o texto magnífico é um pé sem cabeça.

    Tudo bem que o cara tenha cancha jornalística e isso e aquilo, mas essa vontade de vomitar palavra desnecessária em cima do leitor é uma coisinha desagradável e até desrespeitosa.

    – o que é uma “manicurva etanólica”?
    – quem compõe o “proletcult”?
    – o que são as “vacilações cavilosas da Marina Silva”? Isso é decente?
    – o que quer dizer “as redes estatais e estaduais trepidam”? São redes ferroviárias? E redes estaduais não são estatais?
    – o que é uma “linhagem pública”? É o contrário de linhagem aristocrática? hua hua hua
    – o que significa um “discurso autógeno de inteligência governativa”?
    – o que é a “iniciativa das entidades econômicas”?
    -que raio é “mercado venerável”?

    Pelamordedeus, quanta baboseira! Isso parece o samba do crioulo doido!!!

    É o texto do jornalista doido hua hua hua
    Deviam contratar o figura pra fazer algum samba-enredo, ia dar certinho.

  5. Pé Vermelho

    Stella, minha fia: Se não existisse um Walmor Marcelino, a gente iria ler e escrever mesmices. WM nos impõe o retorno ao estudo, ao pensar, ao raciocinar, à discussão, à consulta, à análise. Lá em cima, disse que não havia entendido nada. De fato. Obriguei-me a ler, reler, triler. Agora já estou entendendo alguma coisinha. O que para o meu meio neurônio já é um baita avanço.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.