Manuel Carlos Karam é minha primeira grande perda na vida. Sei que a possibilidade de outras é natural. Mas ainda não entendi como é isso. Fico sempre querendo ligar o carro, cruzar a cidade e ir lá, tomar uma cerveja com o Karam. Era simples assim, não entendo como agora não rola… eu realmente não entendo isso!!! Fico aqui ouvindo muito Beatles, de um
jeito meio natural: aprendi a gostar dos caras de Liverpool com o Karam, ele me ensinou sobre a boa música, boa literatura, não tem jeito. Não tem outro jeito…
As coisas são realmente esquisitas, não chorei até agora e sei que uma hora dessas, vai sobrar água…eu tenho certeza, mas sinto uma necessidade de permanecer na dúvida.
Ele fez a cabeça de muita gente, e tem gente que nem se dá conta disso. Tem uma turma grande que está chorando, muito triste, desorientada. É uma turma que não ta nas listas dos mais famosos ou bem sucedidos, ou até está. É só uma turma que ficou na mão, tá pegando ônibus, virando as esquinas e ainda não sabe pra onde seguir, é assim: cadê o cara? A gente
não tem aqueles textos longos pra declamar, não pintou qualquer vontade de uma homenagem marcante. A gente só quer encontrar o Karam sem motivo, a qualquer hora, porque sempre foi assim.
Eu conheço várias pessoas que vale a pena ouvir. Só que não conheço ninguém que eu escute como escutava o cara.Bastava sentar junto e conversar, aqui, na Curitiba que ele adorava, na praia, sempre valia a pena. E a gente não ficava procurando motivo pra boa amizade.
Ele ensinou um monte: texto, lógica, criatividade, boa bebida, sol na praia, trocadilhos, carinho, generosidade, alegria, família, tudo, tudo, tudo!
O cara era forte, tinha 60 anos, e uma porrada de coisa pra fazer, e ele ia fazer.
Deixou a gente e foi embora. E agora, a gente faz de conta que foi mais umque se foi?
Não dá, não tem jeito.
Eu tô achando que essa é uma perda que a gente vai levar pra sempre. Pelo que ele fez. Por tudo aquilo que ele ainda tinha pra fazer. E, aqui muito entre nós, o que ele tinha que fazer era continuar entre nós.
Eu sei, ele continua. E não continua, não sou tão bom assim pra lidar com uma perda que realmente conta. Porque é ausência, eu não posso mais tomar uma cerveja e conversar com ele, é isso.
Karam, meu amigo, vê se dá um susto de vez em quando na gente: toma um gole de nossos copos! De tudo e que é muito, faz uma falta danada a sua gargalhada…
Por isso, um brinde, Karam, vamos nós aqui, levando a vida e esperando que a cerveja acabe antes do esperado, assim podemos dizer: o Manuel tá tomando com a gente!
Fernando Rodrigues
jornalista (e o Karam tem culpa nisso!)
Conheci o Karam em meados da década de 70 quando eu fazia jornalismo na UFPR e teatro no Guaíra. Naquela época, já pensava: esse cara é especial. Suas peças teatrais, seus livros, suas idéias, seus textos, sua criatividade estão à frente do nosso tempo. Sem falar no humor, especialísssimo. O mundo ficou mais triste e menos sábio sem ele por aqui. Aprendi e ri muito com ele. Ficou a lição, o belo exemplo.
Conheci o Karam em meados da década de 70, quando estudava Jornalismo na UFPR e recém-vindo do interior. Eu era um molecote e ficava deslumbrado com Curitiba e a efervescência em alguns setores da nossa cultura. Um dos meus ícones já era o Karam. Vi todas as peças de teatro que escreveu, parte dos livros que publicou e tive a sorte, como o Fernando Rodrigues, de trabalhar anos com ele. E, lógico, de beber nos bares com ele e aprender. Aprender muito. Essa cara já começa a fazer uma falta danada pra gente.