6:55Deus também erra

O jornalista Gladimir Nascimento escreveu e leu na BandNews:

Eu desconfio que Deus é candidato. Há dois anos contratou o publicitário Jamil Snege. Se ele quase transformou o Toni Garcia em senador, pensou Deus, a campanha está no papo. Mas as pesquisas mostraram uma queda de popularidade e Deus pediu reforço. Se bem que há também a versão de que foi o próprio Jamil Snege que armou para ter companhia, aborrecido que estava com a falta de um bom papo, entre tanta gente santa. O fato é que Deus contratou a peso de ouro o jornalista e escritor Manoel Carlos Karam. Peso de ouro para nós, seus amigos, leitores e ouvintes.Karam nasceu em Rioo do Sul, Santa Catarina, meio que por acaso, porque o pai dele estava passando um tempo por lá. Viveu mesmo foi aqui em Curitiba. Nos dias mais frios, nas manhãs mais enferruscadas dessa nossa cidade, o Karam sorria. Gostava de geada, do frio e de caminhar. Nunca o vi em um carro, sempre andando, pelo Centro Cívico, pelo Bom Retiro… Com ele aprendi que o cafezinho do andar de baixo do Mueller é melhor que o do andar de cima, e que o pão com queijo com mortadela do velho armazém da Hugo Simas é um dos melhores sanduíches do mundo. E que um romance pode ser escrito com números. Na página 30 de “Pescoço Ladeado por Parafusos”, o Capítulo Anotações sobre Números tem única uma meia linha: “O Diabo a 4”. Nesse mundo de mocinhos e bandidos, Deus anda mal de pontaria; cada vez que atira, mata um narrador. O Karam era um narrador. Mas se ele fosse escrever sobre isso, seria mais sintético, reproduziria somente o comentário de Deus: Oops! Errei. Deus também erra. Ultimamente, só tem levado os caras legais.

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Uma ideia sobre “Deus também erra

  1. Tarquinio

    Este é um daqueles textos que eu gostaria de ter escrito. Está à altura do Karam e do Jamil.

  2. Pé Vermelho

    Deus está apagando o mundo, devagarinho, prá não dar na vista a mancada que fêz, criando-o. Um tsunâmi ali, um furacão acolá, leva um Zé Eugênio ontem, depois leva Karam…

  3. André Rodrigues

    Bandido (e) político, Ele não leva. Gente boa praça ta tudo subindo para o andar de cima. Das duas uma: ou Ele ta salvando os caras da penúria aqui debaixo, ou como diz o texto, está mesmo ruim de pontaria. Excelente texto!

  4. Sandra Nassar

    Demorei para escrever, mas agora o aperto no coração jogou tudo de uma vez só para fora. Karam, para mim, Manoel. Tenho um vício antigo de dar apelidos para as pessoas que gosto muito. Bob, é um deles, para um dos meus anjos da guarda. Manoel, foi outro. Quando cheguei ao Estadinho, saindo da faculdade, o Manoel já era tudo (até porque minha irmã, veterena no jornal, tinha me passado o perfil do grande Karam). Ficava fascinada com seus textos, suas tiradas e sua calma, mesmo no sufoco do fechamento – naqueles tempos primitivos, de máquina de escrever. Até o barulho de seus dedos no teclado era mágico. Nas conversas de boteco, tanta sabedoria! Eu devorava tudo.
    A proximidade com ele, me fez chamá-lo de Manoel. E ele sempre respondia sorrindo, como as pessoas especiais que cruzam nossos caminhos. Tive o prazer, certa vez, de vê-lo escrever um dos capítulos finais de um dos seus livros. Inesquecível! Ele desencantou, não é Bob? Nosso céu mais estrelado, com o Manoel.

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