3:43Para se despedir do Karam

O velório de Manoel Carlos Karam será na capela Vaticano, ao lado do Cemitério Municipal de Curitiba. Seu corpo será cremado às 17h.

Compartilhe

Uma ideia sobre “Para se despedir do Karam

  1. Eduardo Goulart

    Valeu, Karam

    (Eduardo Goulart)

    Estava me segurando, mas nesta virada de ano não poderia deixar de traçar algumas linhas sobre o amigo e colega Karam. Infelizmente, ele não emplacou 2008. Parodiando Bocage, diria que Karam evaporou o próprio ser na lida insana do tropel das paixões que o arrastavam.
    E a maior de suas paixões era a língua. Explico: a lapidação da língua portuguesa, a ourivesaria da palavra escrita. Seus textos, sempre em ordem direta, eram simples, mesmo os mais sacanas das clássicas Triboladas, da Tribuna da Imprensa, que inaugurou, assinando com o pseudônimo de Dartagnan. Ou Darta, como preferiam as tchutchucas de sua ficção jornalística no início dos anos 70.
    Nunca tivemos muito contato pessoal, quase não nos falávamos pessoalmente. Mas nos conhecíamos desde 1970, quando assumi, eleito por Lucia Camargo, a presidência do Cejuc – Centro de Estudos de Jornalismo da Universidade Católica do Paraná – futura PUC-PR. Na posse do Cejuc, a surpresa: a sala reservada ao Centro de Estudos estava transformada em cenário de estupro. Um velho sofá verde encostado na parede estava forrado com lençóis manchados de sangue! Não faltava nem mesmo a calcinha rasgada jogada a um canto! Assustador!
    Era só cenário, o sangue era tinta vermelha, mas que nos impressionou profundamente, rapazes e moças calouros, cheios de entusiasmo, prontos a mudar o mundo no desembarque na universidade. Karam, não. Ele já estava no quarto e último ano, queria fazer Teatro e aproveitou a oportunidade para passar um trote nos calouros.
    Numa manhã fria e chuvosa, quase 30 anos depois, encontrei Karam numa esquina do Centro Cívico: com seu respeitável capote marrom, parado, chuva fria escorrendo nos cabelos e no rosto barbudo. Quando me aproximei, reconheci a figura inconfundível, ofereci o guarda-chuva. Ele desviou, ficou olhando pra cima, chuva na cara, e exclamou: “Que maravilha!”
    Naquele momento, fiquei sabendo por que Karam nunca saiu de Curitiba. Ele era apaixonado pela sua cidade, seu clima, sua mudança repentina da atmosfera. O jornalista que exprimia seu talento por parábolas de ofício. Seu teatro, seus contos e romances ou poemas nada mais foram do que manifestações do jornalista inquieto.
    Até que fomos trabalhar juntos, mas não perto um do outro. Pelo menos fisicamente. Ficávamos a distância de um telefonema. Ele no Palácio Iguaçu (Jaime Lerner cerca-se de talentos sempre), eu na Secretaria de Cultura. Fiquei conhecendo, então, a maior qualidade do jornalista Karam: a humildade.
    Técnico brilhante, nunca deixou de me socorrer na batalha diária contra as armadilhas do idioma. Desde um texto para um press-release até uma redação de maior fôlego, Karam sempre encontrava uma fórmula elegante de expor o pensamento. E explicava. E justificava. Sempre naquele tom de voz tranqüilo e cordial. Mas com firmeza e decisão. Como faço agora, eu agradecia: valeu, Karam!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.