2:573×4 do Homem

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                                                                              Foto SECS

Por Hélio Teixeira

Quinta feira passada, ao voltar de Palmeira, minha cidade-clima do Brasil, onde acabara de ver e conversar com meus pais no centenário cemitério, e com minha Tia Zulmira, 104 anos, ainda lúcida, escutei no rádio que na Curitiba de hoje o bom negócio é “procurar caminhos alternativos”. Com minhas duas irmãs, Lenira  e Maria de Lourdes, e meu cunhado Mario, fiz isso e desemboquei diante da casa do Zé Eugenio, aquele istmo cercado pelo tráfego louco da rua Roberto Barroso. Lembrei dele aos meus familiares. Ontem, final da tarde, soube que o bom Zé não resistira ao segundo derrame. Quase três décadas atrás, ele e eu, na “Veja”, fomos ao Noroeste do Paraná saber porque razão aquela região  não crescia em população. O motivo, na época, era  a constatação de que “onde o boi entra, o povo vai embora”. Tradução: pasto, capim não dá empregos, a vida não floresce. Numa dessas noite sem gente, perseguindo o “Paraná está pronto”, título equivocado da revista para a matéria, nas cercanias de Paranavaí, Zé Eugenio sugeriu comer camarões. – Peraí, disse a ele, nós estamos a uns 700 quilômetros (freezer não era nem moda, então) do litoral.  Ia dar cagada. Deu. Zé Eugenio com sua têmpera nordestinanão resistiu ao instestino revolto dos produtos dos mares de Paranavaí  no bucho de um sertanejo. A matéria terminou pra Zé Eugenio internado num hospital, resmungando “não é nada Helio, amanhã vamos à luta”. Esse Zé, meu amigo, sempre solidário, carinhoso, humilde, era um fotógrafo intuitivo, um baita repórter, aquele que olhava a cena, mas captava o coração e a alma do entrevistado. Depois argumentava docemente com o repórter, como eu, traduzindo palavras que possuiam outros sentido do entrevistado. Contar minhas aventuras na Veja ou Placar com essa doçura de ser humano que nos abandonou, é fazer uma foto desfocada. O foco é esse ser humano exemplar, esse profissional correto, sério, compreensivo.  Mas estava na hora, amigo Zé Eugenio, tua querida Dodó se foi, teus filhos encaminhados, tua Shangrilá e teus amigos sentirão saudades. E aí onde você está, vê se faz um 3×4 do Homem e manda pra mim. Nem ele vai resistir a você e a teu “clic”.

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