16:57José Eugênio de Souza, adeus

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     Zé Eugênio, a rede e os quadros. Fotos de Lineu Filho 

Meu amigo acabou de embarcar para o lado da sua Dodó. Passamos uma parte da vida juntos, no trabalho, produzindo reportagens para a Revista Placar. Eu, menino atrapalhado da alma. Ele, pernambucano calejado pela vida e, por isso mesmo, sabendo o que vale a pena. Valia nossa amizade, as boas risadas, a paixão pelo Nordeste (ele de Garanhuns, Pernambuco, eu, paulistano mas orgulhoso de ter a semente em Palmeira dos Indios, Alagoas). Zé e Dodó batizaram meu primeiro filho, Yuri, hoje um piá de 29 anos que, recentemente, viu o padrinho chorar em seus ombros por conta da perda da companheira. Vixe como tem Zé, mas este Zé era mais que especial. Foi estivador e lutador de boxe. Tirou as luvas para trabalhar em gráfica de jornal e depois descobriu a mágica da fotografia. A vida é assim. Sua alma de menino, livre dos entulhos normais, sempre enxergou o mundo iluminado. Por isso era dos poucos militantes de esquerda que eu respeitava. Militante de defender o que achava ser justo, não pentelho acadêmico. E ele respeitava a opinião alheia. Nunca acreditou que seu conterrâneo presidente soubesse das falcatruas do noticiário. Vai ver que ele tem razão, por ser Lula ingênuo como ele. Ingênuo no bom sentido, de acreditar nas pessoas, de pensar que este mundão de Deus ainda tem salvação. Ah, meu amigo… Há duas semanas conversamos longamente naquela casa de madeira da Roberto Barroso quase esquina com a Mateus Leme, onde a rede sempre está pendurada e quadros expostos na parede. Ele estava sentado no primeiro degrau da escada que leva à pequena área de entrada da casa. Por cima da cabeça, uma tela pintada pelo irmão, paisagem do agreste pernambucano, vaqueiro todo vestido em couro, bode, vaca, mandacaru, céu azul, sol esturricando tudo. Aquele é o céu do Zé Eugênio. Ele está lá e eu só posso dizer que foi uma benção de Deus conhecê-lo e aprender coisas que importam de fato nesta vida. Adeus, Zé. Dê um beijo na Dodó. Nós, por aqui, vamos tocando o barco conforme você ensinou. Sem levar muito a sério, mas honestamente – e rindo para reforçar a felicidade.

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Uma ideia sobre “José Eugênio de Souza, adeus

  1. Sandra Nassar

    Difícil acrescentar mais palavras ao seu texto em homenagem ao ser iluminado que foi o Zé Eugênio. Difícil também esquecer aquele sorriso contagiante, sincero, espontâneo, matreiro, de quem tem todo o prazer de viver. Foi o mesmo sorriso que ele usou há mais de 20 anos quando fez questão de fotografar meu casamento. Demonstrou uma disposição e um carinho inigualáveis. Brincou com todos, brindou conosco. Lembranças para a vida toda é que não faltam. É o convívio com pessoas como o grande Zé Eugênio, de olhar mágico e coração enorme, que nós levamos para a eternidade.

  2. Bitte

    Zé Beto:

    O “Zéogênio”, parceiro de algumas poucas viagens, mas de altos papos na redação … bem, para contar histórias dele e com ele, vamos varar a noite.
    Leva com ele um pouco da benquerência de gente boa que havia nesta cidade. Junto com um punhado de minhas lágrimas e um bom pedaço de coração. Beijos prá Denise, pro Jorginho e pro Fernando.
    Um pedido de amigo velho: deixem a rede na varanda, que é para poder gritar quando passar: “Eu quero dormir nesta rede”, e “escutar” lá de dentro: “Se manda negão sem-vergonha!”.

    Bitte

  3. jorge

    Notícia triste Zé.
    Zé Eugenio, figura alegre, sempre de bem com a vida, Sábio com as palavras. Não tinha tempo ruim para ele. Tive o prazer de conhece-lo há muitos anos. Jogamos muita conversa fora na sala dos fotógrafos do Palácio. O grande amigo se foi, mas deixou sua marca. O belo trabalho feito por ele vai inspirar as novas gerações de profissionais da fotografia. É isso aí. Notícia muito triste.

  4. zebeto

    Rubico Camargo, meu caro, acabei de falar com o Fernando, filho do Zé. Só se sabe que o enterro será amanhã no Cemitério Iguaçu, no Parque Barigui. Assim que eu tiver notícia sobre o velório, informo no blog. Abraço.

  5. Gerson Guelmann zs

    Zé Beto: ao ler o teu relato, só o que me resta dizer é que lamento muito não ter conhecido o Zé Eugênio. Que D’us o tenha em bom lugar.

  6. Rubico Camargo

    Obrigado Zebeto.
    Vai ser dificil passar de carro pela casa da Roberto Barroso e não poder mais gritar o nome do amigo Zé Eugenio.

  7. valdeci lizarte

    O VELÓRIO VAI SER NO PARQUE IGUAÇU, PRÓXIMO AO PARQUE BARIGUI. O ENTERRO TAMBÉM.

    CONHECI O ZÉ HÁ TRÊS ANOS, QUANDO ELE IA ATÉ A REDAÇÃO DO PALÁCIO LEVAR BRONCA DA FILHA, A DEDE. IA VÊ-LA, CLARO. MAS ELA SEMPRE PEDIA QUE ELE FICASSE MAIS EM CASA, POR CAUSA DA SUA SAÚDE. QUE NADA!
    SAÍA DA REDAÇÃO COMO HAVIA ENTRADO: RINDO E FELIZ. E MESMO DEPOIS DAS BRONCAS, LOUCO PARA SE PERDER POR UMA CURITIBA QUE TALVEZ ELE NÃO RECONHECESSE MAIS.

    ESTEJA COM DEUS, SEU ZÉ.

  8. Pé Vermelho

    Sempre que passava na frente daquela casinha de madeira quase na esquina da Mateus com a Barroso, imaginava que ali morava alguém diferente. Tava certo. Pena que não o conheci. Mas estou juntando as minhas orações às de quem teve a ventura de partilhar do viver do Zé Eugênio.

  9. Jeremias, o bom

    A propósito, segue uma letra de Maurício Tapajós e Aldir Blanc:

    “Perder um amigo,
    morrer pelos bares,
    pifar em New York,
    penar em Pilares…
    Perder um amigo:
    errar a tacada,
    sentir comichão
    na perna amputada.
    Perder um amigo,
    mudar pra bem longe,
    levar vida afora
    o tombo do bonde.

    Perder um amigo
    é a última gota
    se o cara duvida
    que a vida é marota.
    Perder um amigo,
    perder o sentido,
    perder a visão,
    as mãos, os ouvidos…

    Perder um amigo:
    perder o encontro
    marcado e marcar-se
    com a perda do espelho
    nos olhos do amigo
    aonde melhor
    conheci minha face.”

  10. JJ

    Zé Eugênio era um dos grandes fotógrafos jornalísticos do Paraná, com quem tive a honra de trabalhar no velho Diáiro do Paraná, da José Loureiro, nos anos 70.
    Insaciável na busca do melhor ângulo e da foto perfeita, chegava a deitar no chão molhado ela chuva, para captar a melhor imagem. Era diferenciado, pelo seu amor ao trabalho e à sua família.
    Um santo homem, amigo, afetivo, companheiro, profissional dedicado.
    A última vez que o vi, foi na Festa de Santa Rita, quando fez uma auê ao me encontrar, abraçar e beijar nas faces. Era um grande homem. É um grande homem, que viverá para sempre em nossas lembranças, pois era um tipo inesquecível. Saudades, Zé.
    Vou te dar um até logo, amanhã.

    JJ

  11. JR

    Zé Eugênio, cabra da peste, arretado que só. Leve tua rede para junto da tua Dodó.

    Foi um mestre de todos nós.

  12. Ana Paula Araujo de Souza

    O que se responde a uma criança de sete anos quando ela te pergunta “do que será que eu vou morrer”? Essa era a grande dúvida do meu pai (a tal criança de sete anos…), José Eugênio de Souza, depois de ter escapado de alguns “sustinhos” … Hoje respondo a quem quer que seja que a única coisa que conseguiu segurar o piá foi a tristeza! Por isso sorriam sempre que lembrarem das aventuras do destemido menino e de suas lentes mágicas…ele era (é) o amiguinho bagunceiro que veio, pra mim, nessa vida, em forma de PAI!

  13. Luciane Corsico Souza

    Sempre que meu tio Eugênio ligava aqui em casa, e eu tinha a sorte de atender, era assim o inicio da prosa:
    Eu – Alô
    Ele – Oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii menininha!!!!!!!!!!!!!!!!! Cê tá viva?????…
    Ao que hoje eu respondo hoje: To sim tio mas com o coração apertado de saudades de vocês. Que bom que eu lhe disse várias vezes o quanto eu te amo. Agarra e beija muito(mesmo sobre protesto) a tia Dodo por mim. Obrigada meu tio por tudo vc foi um formador positivo muito grande em minha vida e um pouco de vc está em tudo que eu faço e sou. Até Cabra da Peste e cuidado pq se Deus morrer de rir todos saberão quem é o culpado.

  14. Marina Jonsson Souza

    E hoje eu tenho orgulho de dizer que eu sou neta do José Eugênio , aquele cara que vivia deitado na rede , escutando o jogo no ultimo volume. Aquele que saia de casa para ir na famarcia do Roberto , e la ele ficava horas e horas conversando. Aquele que me ensinou a deitar na rede sem perigo de cair, e a comer arroz com graxinha (molho). Com certeza, agora ele está enchendo o saco da minha vó devolta, e os dois estão muito felizes. O que nos resta , é a lembrança maravilhosa que ele nos deixou , e a saudade tambem. Descansa vô. Eu amo muito você.

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