6:00Um contrato à francesa

Texto enviado por “Goela Falante”, do Palácio das Araucárias. 
 
Desde julho passado, a pedido do governador Roberto Requião, a Copel vinha realizando negociações com o grupo francês Vivendi/Sanedo, que detém 30% do Consórcio Dominó, maior sócio da Sanepar. A idéia era comprar as ações dos franceses e a Copel acumularia 45% da Sanepar, tendo direito a controlar boa parte da diretoria de sua irmã do saneamento. 
Tudo ia bem até há 15 dias, quando o representante da Sanedo, o egípcio Marlik Bentabet entregou um “pen-drive” (CD miniaturizado) à Copel contendo a proposta em negociação (venda de suas ações por 42 milhõesde euros).

Ao abrirem o “pen-drive”, os diretores da Copel foram surpreendidos com um texto ao seu final, onde Sergio Botto de Lacerda, ex-Procurador geral do Estado e conselheiro da estatal elétrica, estava sendo contratado como consultor dos franceses. Botto escreveu que estava recusando a proposta de consultoria pelos “valores claramente insignificantes frente a dimensão a ser enfrentada” e que a “eventual consultoria jurídica privada estaria a merecer melhor consideração”. No mesmo “pen-drive”aparece a resposta do egipcio Bentabeteb  a Botto,depois de uma reunião de ambos, em São Paulo:  

– “Caro Sergio,
Deve realmente ter acontecido algum mal entendimento em nossas conversas. Talvez seja um problema da falta de domínio dessa lingua tão complexa que é o português. Acreditava que por ocasião de nosso encontro em SP na quarta feira passada tínhamos encerrado a problemática da sua remuneração. Como te dise, no preço de venda de Euros 42,578 milhões não existem “reservas” para fazer esforços adicionais, pois foi estabelecido antes de nossas conversas, e além do mais o nosso valor contábil em Euros representa portanto nosso valor mínimo. Na tentativa de buscar uma solução (e por favor acredite que se pudessefazer mais, o faria), poderíamos considerar a possibilidade de obter da Copel a divisão 50/50% do Jcp/dividendos de 2007 (o que seria justo pois 2007 esta no seu final) e que serão pagos em junho/2008 e neste caso poderíamos pagar um sucesso – fee adicional de R$ 300 mil. Sinceramente Sergio, espero que você reconsidere sua posição e possa me ajudar a fechar este negócio.
um forte abraço”

 O Contrato de Prestação de Serviços Advocatícios da empresa francesa e o procurador do Estado e conselheiro da Copel em 4 folhas e prevê o pagamento de R$ 12.500 no ato da assinatura e mais R$ 182.000  caso a transação se concretizasse.
Na cláusula oitava se comprometem reciprocamente a manter a confidencialidade sobre o mesmo. A Sanedo, semana passada, incluiu no valor de sua proposta mais 80 mil euros, algo como R$ 200 mil, a título de “honorários contratados”,
mas  a Copel não aceitou. 
Quarta feira passada, dirigentes da Copel foram ao Palácio das Araucárias e mostraram esse conteúdo do famoso “pen-drive” ao governador Roberto Requião. O governador subiu nas paredes sem divisórias do seu gabinete. O mais curioso da história é que as paredes galgadas por Requião vazaram, sem nomes, ao colunista Celso Nascimento, da “Gazeta do Povo”. Mesmo sem ter sido nominado, Botto de Lacerda se identificou em seguida como o personagem da ira do governador ao
tomar conhecimento de que a  “consultoria” vazara. 
Botto acusou “fogueteiros de plantão” de desejarem comprometer a sua honra. Deveria nominá-los. E o governador se pronunciar.

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Uma ideia sobre “Um contrato à francesa

  1. duarte

    Como o “Goela Falante” escreve direitinho não? Até as vírgulas no lugar. Faz tempo que saiu da redação? Não, acho que não se trata disso. Deve ter lido Oscar Wilde, Joyce, Tolstoi etc. Sabe como é, esse pessoal do Palácio das Araucárias só pensa em, como diríamos, evoluir

  2. Lauro Silveira Neto

    A questão é: Botto aceitou? Não. Botto teria algum impedimento para advogar pra Sanedo? Não. Então, qual o problema? Colegas, vida privada existe. Quem pode cobrar honorários altos, deve fazê-lo. A periferia, aquela, que fica no entorno comendo migalhas, que fatura com negociatas escusas, que só consegue ganhar dinheiro na base do “esqueminha”, esta sim.. Esta que se move por esse tipo de interesses..

  3. Anderson

    Nada mais atual do que aquela definição:
    “Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados!”

  4. Marcia To

    Esse Botto continuou sim fazendo negócios com o seu escritório de advocacia, que tem um sócio que já foi secretario do Requião. Eles fizeram de conta que brigaram pra continuar sugando o estado, é fácil conferir. Vejam na OAB, de quem ele era sócio.

  5. analista

    Companheiro Silveira Neto.

    Vida privada existe, sim. Mas quem é procurador
    do Estado e conselheiro de estatal, como o Dr.
    Botto de Lacerda, deve defender o poder público
    contra o privado (ou a privada). Certo?

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