13:31O que restou de um Metralha

Dois irmãos. Cuidavam de carros perto da Prefeitura de Curitiba. Ganharam logo apelido de história em quadrinhos. Irmãos Metralha. Negros. Altos. De vez em quando fumavam um baseado ali debaixo da árvore. Depois passaram a fazer vaquinha entre companheiros de profissão durante a tarde para buscar o pó vendido pelo tira na Praça Tiradentes. Numa casa abandonada na esquina jogavam nos canos. O mais velho era casado. Tranquilo, morava num quarto em casarão quase abandonado perto do Largo da Ordem. Se orgulhava de saber se aplicar sem deixar marca. Os outros, com veias estraçalhadas e feridas horrorosas, o chamavam de mestre. De repente, ele sumiu. Faz anos. Morreu de overdose e deixou filhos por aí. O mais novo se internou no crack e virou molambo de gente. Depois, estacionou no álcool. Perdeu os dentes da frente, inchou, surgiram feridas nos pés de elefante. Quase não consegue andar, mas faz ponto para cuidar de carros na Faculdade Opet, perto do hospital Bom Retiro. Diz que precisa tomar uma dose logo ao acordar, para poder passar o dia. Há muito tempo encontrei-os. Estavam inteiros. Um foi embora. O outro é este que está na minha frente e que estende a mão deformada. Ele não pede dinheiro. Eu dou uma nota de dez. Ele diz que vai tomar mais uma. Pergunto a idade. Tem 37 anos. Poderia ser meu filho. Está mais velho que meu pai que se foi com 80 e doente. Num dia 13 de novembro de 1.990 tomei meu último gole ali perto deste encontro. Na rua Mateus Leme. A vida é assim.  

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Uma ideia sobre “O que restou de um Metralha

  1. Red Foot

    Eu também dei um estope na LI. Tô me sentindo bem, dormindo e comendo melhor. Comendo nos dois sentidos. De vez em quando me acho meio xaropão. Dai uma tendência para a volta ao crime. Mas, logo advém a análise do meu bem estar atual. Que prevalece. Se eu conseguir resistir aos apelos do balantaine nestas próximas festas de fim de ano, vou me achar o macho do ano. Valhei-me minha Nossa Senhora! E valha ao Zé Beto também!

  2. zebeto

    Só por hoje, Red Foot. Foi aí que iniciei a jornada da vida. E é só hoje mesmo. Você matou a charada quando falou do “xaropão”. A coisa se resume no emocional, que é o que temos de tratar, seja no divã, com amigos, com o padre, pastor, bispo, companheira, companheiro, etc. O bem viver é o melhor remédio. Passei décadas nas trevas, desde antes do início da trajetória etílica. Hoje acho bonitos os rótulos de cerveja, de uisque, etc. Sei que, se tomar, estarei na sarjeta em pouco tempo. Prefiro água de côco, sucos, chás, cafés e, claro, água com gás, porque ninguém é de ferro. Fique firme. Qualquer coisa, grite que o beque aqui te ajuda. Abração.

  3. zebeto

    Erlon, ainda bem que a maioria das pessoas pode beber. O time especial, não pode, mesmo porque já bebeu por várias gerações. Então, amigo, beba por nós, mas só o suficiente. Como disse o filósofo Junior, aquele mesmo, do Mengão e da Seleção Brasileira, tudo que é demais, estraga.

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