3:10Para as bicicletas da cidade

Artigo de Jonny Stica*

Imaginem um ciclista saindo do Terminal do Portão com destino ao Passeio Público. Na saída do terminal, ao passar por um bicicletário, ele registra a passagem de sua bicicleta, através de um código de barras instalado no aro da roda ou na barra da bicicleta.

Calma. Se você já achou complicado, imagine um simples sistema de supermercado, onde os pacotes são registrados no caixa por leitores de códigos de barras. Pois este sistema é similar e sem complicação. Depois de pedalar por alguns minutos, o ciclista encontra no caminho uma máquina com garrafas d`água (como aquelas de bebidas já existentes). Lá o sujeito passa novamente o código de barras, então a máquina calcula que o sujeito andou cinco quilômetros. Estes quilômetros de milhagens lhe dão direito a uma garrafa de água. Depois continua seu trajeto até o Passeio Público, onde guardará sua bicicleta. Ao chegar e passar novamente o seu código, o computador (devidamente integrado a uma rede) mostra que o mesmo sujeito andou o equivalente a dez quilômetros no total, desde a saída do Terminal do Portão. Cada trecho pedalado gera uma milhagem correspondente. Agora você deve ter imaginado que o Oil Man, o famoso ciclista de sunga de Curitiba, vai ficar rico… Calma, não é bem assim! Essa milhagem pode ser trocada por uma barra de cereal ou entrar no sistema de creditação de pontos, que permite a troca por outros benefícios. Depois de um ano e meio de pedaladas, uma viagem de avião ou depois de seis meses uma bicicleta novinha (aí entrariam parcerias com empresas patrocinadoras). As milhagens também poderiam ser trocadas por descontos na tarifa de ônibus. Andar de bicicleta não aumenta a poluição, tanto a ambiental como a sonora, e não congestiona o trânsito, o que perfeitamente explica um investimento do estado no incentivo ao uso de bicicleta pelos cidadãos. E ainda não contamos os benefícios individuais; pedalando uma hora, uma pessoa perde cerca de 600 calorias. Quem seguir esse estilo de vida, dificilmente será mais um na fila dos cardíacos com 35 anos ou dos sedentários de 25 e, de quebra, vai gastar menos verbas da saúde pública. O ganho acontece em todos os sentidos! Saúde, mobilidade, deslocamento democrático – o que é mais democrático em transportes do que se locomover sem gastar um centavo?

Puxa, que interessante – pensa o leitor – então porque ninguém implantou isso antes? Porque simplesmente nos acostumamos com o sistema que prioriza os automotores e, portanto, não reivindicamos modelos eficientes e alternativos para a promoção de uma cidade melhor. Entender que a bicicleta não deve ser usada apenas como uma forma de lazer em caminhos próximos de parques, mas uma opção de transporte barato e eficiente para o trabalhador.

Para o modelo se tornar viável é necessário um sistema integrado de ciclovias, ciclofaixas e outro qualquer “ciclo-espaço” que venha a ser inventado. Desde os anos 80 Curitiba não investe pesado nas ciclovias. A bicicleta deve ter seu espaço em todos os cantos da cidade, em todas as direções, da melhor forma possível. Em ruas largas com espaço exclusivo e em ruas estreitas deve conviver com o carro, na forma de ciclofaixas bem sinalizadas ou mesmo ao lado do automóvel, principalmente em ruas de baixa velocidade. Uma grande campanha de transito pode orientar a população quanto ao novo uso das faixas, enfatizando o respeito entre ciclistas, pedestres e motoristas. Em menos de cinco anos podemos ter uma cidade acostumada com as bicicletas, como se elas sempre estivessem ali.

Um sistema de aluguel de bicicletas (rent a bike, comum em várias cidades, como Amsterdã e Berlim) pode ajudar os mais cautelosos a iniciar nessa modalidade de transporte até resolverem adquirir de fato uma bicicleta. Sem contar os turistas que podem alugar uma bicicleta para conhecer a cidade.

Para o sistema fechar-se como um todo, é importante que haja condições no local de trabalho para receber o funcionário ciclista, como vestiários, chuveiros e bicicletários adequados.

Outras medidas, como a distribuição de mapas com toda a rede de ciclovia representada, de forma fácil para entender as conexões e os sentidos das vias. Em pontos mais perigosos pode-se instalar câmeras de segurança.

O mais interessante de tudo isso é que ciclovias são simples de se construir e perfeitamente viáveis. Uma pequena faixa de apenas 2,5 metros garante o sentido duplo de bicicletas ou com apenas 1,5 metro à mão única. Conversando com o engenheiro, Jose Álvaro Twardowski, coordenador do programa circulação do IPPUC e defensor das ciclovias em nossa cidade, verifiquei valores que justificam urgentemente a implantação desse sistema. Como referencia, uma ciclovia projetada para a cidade Industrial de Curitiba, em sentido duplo, com revestimento em TSB (antipó, suficiente para uma boa ciclovia). Segundo Twardowski, esta ciclovia de nove de extensão custaria apenas duzentos e setenta reais o metro linear. O que é muito pouco comparado com a implantação de qualquer outro sistema de transportes. Agora se não tivermos a construção e manutenção dessas ciclovias e campanhas eficientes de incentivo, como a de milhagens, é certo que pouca gente trocara a mão do volante pelo guidão da bicicleta. Mais bicicletas, menos carros! 
 

*Jonny Stica ([email protected]) é estudante do último ano de Arquitetura e Urbanismo. Foi presidente do Centro Acadêmico de Arquitetura da PUCPR e Presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE-PUCPR). Recentemente estudou na Universidade Politécnica de Madrid e hoje realiza estágio no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).

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Uma ideia sobre “Para as bicicletas da cidade

  1. João Henrique

    Muito bom o texto, um pouco fora dos padrões existentes neste país e principalmente nesta cidade, mas uma idéia excelente, viável, que confronta diversos problemas sociais, da questão ambiental, das facilidades que trariam pro trânsito, o principal é a questão custo benefício, tanto pela questão econômica quanto para a qualidade de vida. João Henrique S. Arco-Verde

  2. EMERSON STRESSER

    Matéria que merece aplausos, pela iniciativa e pela idéia, muito bem colocada para os dias atuais, onde a preocupação com o meio ambiente e debatido cada vez mais e quanto a contribuição para a saúde de cada indivíduo. Um projeto simples, com custo baixa, altamente viável e dois benefícios diretos, os quais já citei acima. No caso de Curitiba, para isso se tornar realidade deveria ser investido mais na conservação das ciclovias existentes e implantado novas, fornecendo maior apoio aos adeptos. A educação, seja através da midia, seria um ponto imprescendível para a realização deste projeto, só assim todos estariam conscientizados e assim respeitariam quem pelas ciclovias estiver circulando.

  3. Pingback: Mobilidades | design

  4. Dirceu

    Powww q coisa mais mal escrita!!! Prefiro a turma do Lerner, que é arquiteto de verdade – do que alguém que mal sabe escrever..

  5. Eduardo Cooper

    É claro que seria muito legal pedalar e ainda por cima ganhar alguns incentivos, mas sabe quando isso acontecerá?

    Código de barrass e extremamente burlável.
    RFID é muito caro.
    A qual o preço da estrutura de rede para comunicar os equipamentos?
    Qual o preço dos equipamentos?
    Qual o custo de instalar todos equipamentos?
    Qual o custo de manter toda essa estrutura?
    Qual o custo de manter as máquinas de água e cereais?
    Qual o custo de comprar água e cereais para os ciclistas?
    Quem dá mais voto: Ciclistas ou motoristas de automóveis?

    Por mais que fosse viável para o Estado custear tudo isso, de que adianta ter toda essa estrutura se as pessoas tem seu modo de vida direcionado desde cedo para a cultura dos automóveis?

    Qual meio de transporte que a pessoa que escreveu esse artigo utiliza? Será que é algum meio de transporte sustentável?

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