11:32Bruxaria radiofônica

Texto de JamurJr.
 

A invenção do rádio é atribuída ao italiano Guglielmo Marconi que, em 1896, realizou uma transmissão de sinais telegráficos. Marconi, por isso, ficou conhecido na Europa, e grande parte do mundo, como o inventor do rádio. Os europeus, somente muitos anos mais tarde, ficaram sabendo (e procuraram ignorar) que foi no Brasil que um padre gaúcho de nome Roberto Landell Moura fez a primeira transmissão de voz humana pelo rádio, em 1894, ou seja, dois anos antes do italiano. Landell realizou sua experiência em São Paulo, numa transmissão de oito quilômetros em linha reta – da Avenida Paulista até o Alto Santana. Em 1900 o padre Landell fez nova demonstração, em Londres, para membros do governo britânico e jornalistas. O invento do padre gaúcho provocou forte reação de setores da igreja. Alguns padres acusaram Landell de bruxaria e chegaram a invadir seu laboratório e destruir equipamentos. Em certa ocasião, ao responder uma indagação sobre sua invenção, Roberto Landell afirmou com grande convicção:“Esse invento um dia permitirá conversas interplanetárias”. Foi taxado de louco. Esse pequeno resumo de uma longa e bela história serve de introdução a um acontecimento atual, repleto de ironia, envolvendo um padre moderno e uma emissora de rádio antiga. A Rádio Clube Paranaense, a terceira criada no Brasil, (1924), uma das mais potentes e importantes da radiofonia nacional, está condenada à morte. E seu carrasco é um padre. A velha B-2, como ficou conhecida, depois que foi entregue à administração de alguns padres, começou a decair. Perdeu seus melhores profissionais e grande parte de seus ouvintes. Agora, está sendo rebaixada à condição humilhante e lamentável de simples repetidora de uma emissora de São Paulo. Está aí a grande ironia. Foi um padre que criou o rádio em 1894 e é um padre o responsável pela “morte” da Radio Clube em 2007. Oremos por ele. 
 

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Uma ideia sobre “Bruxaria radiofônica

  1. JJ

    Brilhante texto do amigo Jamur Jr. Mas os responsáveis pelo “fim” da Clube como rádio da nossa comunidade, além dos “padres” (na verdade, são Irmãos Maristas) são os novos administradores da PUC.PR que mandaram embora dezenas de professores (alguns ícones daquela Universidade, como o prof. Leopoldo Scherner). É a dita “administração moderna”, maior resultado por menor custo – ao invés de melhor performance. A rádio, infelizmente, pe vítima desta miopia e falta de respeito à história e à comunidade. Uma pena. JJ

  2. Carolina

    Nao faz sentido acabar com uma rádio tao nobre e importante da nossa historia!Curioso é que os “irmaos” (longe de mim ter irmaos assim, seria muita falta de sorte..) que administram a Puc faturam mais a cada semestre que passa. A mensalidade dos cursos só aumenta e a qualidade só diminui. E agora estao enterrando de vez a Radio Clube. Mas, com certeza, alguem vai sair ganhando muito dinheiro nessa historia toda…

  3. Jeremias, o bom

    Lembro que a Bedeois já teve um piripaque na década de 70 e depois voltou com força total.

    A Bedois faz parte da história de gerações de curitibanos e não deve ser tratada como uma rádio qualquer.

    O Paraná fica menor e fica pior sem a Bedois. E nós paranaenses com menos um motivo para nos orgulharmos de nós mesmos.

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